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“MEMÓRIA DO TRT-2”: UMA EXPOSIÇÃO EM CONSTANTE CONSTRUÇÃO

Em maio de 2018, a então Seção de Arquivo Histórico, Memória e Instrumentos Arquivísticos, criada no final de outubro de 2017, apresentava o primeiro grande fruto de seu trabalho: a exposição “Memória do TRT-2: Uma Construção Coletiva”.

A ideia da construção coletiva perpassou diferentes vetores na concepção da exposição. É coletiva porque contou com o auxílio e engajamento de diversos setores do Regional; é coletiva porque narra um pedacinho da história de várias pessoas; mas, acima de tudo, é coletiva porque o Tribunal, a sua história, só é possível por causa das pessoas.

A exposição é resultado de um intenso trabalho de pesquisa, coleta, inventariamento e entrevistas, que nos forneceu uma rede de pessoas, de diferentes lugares, de diferentes atuações, de diferentes épocas, mas ligadas por um fio comum: a importância que o Tribunal ocupa na história de suas vidas.

Sem muita experiência, com as dificuldades naturais de um setor recém-formado, pode-se dizer que a exposição no Fórum Ruy Barbosa foi um sucesso. E dali surgiram novas histórias, conhecemos novas pessoas e descobrimos melhor velhos personagens.

Rumo ao Fórum José Amorim, em São Bernardo do Campo

E assim como a história se desenvolve, naquele eterno devir, nossa exposição também evoluiu, cresceu. Em outubro de 2018, ela deu o ar de sua graça no Fórum de São Bernardo do Campo onde foram incorporados elementos da Justiça do Trabalho de São Bernardo, cidade tão singular e importante nas lutas dos trabalhadores do Brasil.

Ali conhecemos a história do juiz José Amorim (que ingressou no Regional em 1957 e aposentou-se em 1974), que cede seu nome ao Fórum da cidade. Encontramos uma carta elogiosa sobre a sua atuação à frente da então 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Bernardo, carta essa assinada por diretores de sindicatos patronais e de trabalhadores. Partes que sempre estavam em lados opostos nas mesas de conciliação, mas que concordavam em um ponto: as decisões de José Amorim eram justas, seu trabalho e dedicação cumpriam com o dever primal da Justiça do Trabalho, o de pacificação social.

exposiçao "Memória do TRT-2: uma construção coletiva"
Exposição “História do TRT-2: uma construção coletiva” montada no fórum de São Bernardo do Campo. Foto: acervo TRT-2. Foto: acervo TRT-2.

Também descobrimos servidores cujas histórias se confundem com a própria história da Justiça do Trabalho na região do ABC, que ali estavam na criação das primeiras juntas, e cujo trabalho continua registrado em livros de posse e de ponto antigos, compartilhando com os atuais servidores os ideais tão caros à nossa instituição.

E um novo capítulo está sendo escrito, e logo será revelado.

Uma exposição revisada e atualizada

Em 13 de maio de 2019, a exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva” “reestreia” no Ed. Sede do Tribunal, na r. da Consolação. E como não poderia deixar de ser, assim como os estudiosos que se debruçam sobre os períodos históricos e descobrem, reescrevem, acrescentam novos elementos às narrativas, a nossa exposição também amadureceu.

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Cartaz da exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva”, que será inaugurada no dia 13 de maio de 2019, no Ed. Sede do TRT-2. Fonte: acervo TRT-2.

Por mais que sutil que algumas sejam, as mudanças passam por todas as etapas da exposição. Detalhes de montagem e logística, pequenas alterações e adaptações nas vitrines, tudo isso veio com o aprendizado das edições anteriores. Mas o conteúdo veio por meio de mais pesquisa, mais descobertas e contato mais profundo com outras pessoas.

Um juiz exilado

Um exemplo desse amadurecimento é a adição de uma bela máquina de escrever portátil, que pertenceu ao juiz Carlos de Figueiredo Sá, um dos primeiros magistrados do TRT-2, quando ele ainda era Conselho Regional.

Carlos de Figueiredo Sá
Detalhe da pasta funcional do magistrado Carlos de Figueiredo Sá. Fonte: acervo TRT-2

O magistrado, que entrou no Regional em 1º de maio de 1941, como Presidente da 6ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo, foi aposentado em decorrência do AI-5, em 1968. Foi um dentre tantos. Procurado no Brasil pela polícia política, Figueiredo Sá exilou-se no Uruguai.

Carlos aparece com diferentes nomes nos registros do DOPS, prática comum adotada por perseguidos políticos e filiados aos partidos de “esquerda”, “transgressores da ordem” da ditadura militar instaurada em 64.

Foi com essa máquina, que estará na exposição, que o juiz exilado escrevia cartas de seu exílio. Imaginamos que com ela ele redigiu também inúmeros artigos e panfletos, elevando no tilintar das teclas mecânicas sua vontade de democracia e de retorno à sua terra amada. A máquina, dentro de sua maletinha, foi sua companheira inseparável nos seus mais de 10 anos de exílio.

A fiel camarada foi cedida por outra grande companheira de Sá: a servidora aposentada Benedicta Savi, que, também exilada, acompanhou-o, compartilhando com ele a saudade de casa, a esperança do retorno a um país democrático, o companheirismo e o amor.

Benedicta, “Ditinha”, ou “Nininha”, segundo os arquivos do DOPS, contou a sua história que também se entrelaça com a história de dois irmãos seus, Maria Antônia e Oswaldo Savi, também servidores aposentados do TRT-2. Ambos foram perseguidos e vigiados pela ditadura de formas diferentes.

A história de Carlos, Benedicta, Maria Antônia e Oswaldo já faziam parte da exposição desde a primeira edição, no Fórum Ruy Barbosa. Mas ainda sabíamos pouco dos destalhes, víamos as fotos ali, os relatórios, os processos, mas faltava algo. E o contato com a família Savi ocorreu justamente no evento da exposição em que o ministro aposentando Pedro Paulo Teixeira Manus, ao lado do então presidente do Regional, Wilson Fernandes, contavam as suas memórias da Justiça do Trabalho.

Vídeo produzido pela Secretaria de Comunicação, em julho de 2018, sobre a palestra “Entre Memória e História” e a exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva”.

E foi então, por meio de um servidor da Seção de Registros Funcionais de Magistrados, Flávio Lopes da Silva, grande parceiro em nosso trabalho, que nos foi apresentada a bela senhora que brilhava os olhos para contar a história por trás daqueles documentos.

Dali para frente aconteceram duas entrevistas que fazem parte de nosso projeto “Memórias Narradas” (com previsão de publicação a partir do segundo semestre de 2019), uma visita ao Arquivo do Estado para pesquisar documentos do DOPS, e… história, aconteceu muita história.

E por falar em “Memórias Narradas”, esse projeto rendeu outras entrevistas, como a que fizemos com Luiz Antônio de Toledo Leite, o Totó, e com o recém-aposentado Luiz da Silva Falcão – nome muito conhecido e bem quisto na nossa Justiça do Trabalho da 2 ª Região. Essas entrevistas também renderam muitas informações para nossa exposição, mas essa é outra história…

Imagens, imagens, muitas imagens

Novas fotografias também foram adicionadas. Em um passado não tão remoto, diversos registros analógicos, de uma época em que não existia um setor de Comunicação no Tribunal, foram guardados em uma caixa, que ficou meio que esquecida.

São quase 2000 fotografias de eventos, cobrindo diversas situações e inaugurações entre 1994 e 2006. E, com um trabalho incessante de quase dois meses, com pesquisa em relatórios anuais da Presidência, em portais de prefeituras, e com colegas com mais tempo de Tribunal, conseguimos identificar praticamente todos os eventos e datas daqueles registros fotográficos, inclusive identificamos muitos personagens que ali aparecem.

Parte delas consta estará na exposição. E poderá ser identificada nas vitrines de documentos, nas vitrines de objetos, no painel da linha do tempo.

E por falar em linha do tempo…

De maio de 2018 a maio de 2019 muitos eventos aconteceram na Justiça do Trabalho, no Brasil e no mundo. Assim, a linha do tempo da exposição e alguns dos painéis também foram editados para receber esses eventos. Foram revisados, atualizados.

Gostaríamos que fossem apenas eventos jubilosos, como a posse dos 100 novos magistrados em nosso Regional, ou a eleição da primeira presidente negra do TRT-2, mas, infelizmente, tragédias como a do incêndio do Museu Nacional e o rompimento da barragem de Brumadinho devem ser lembradas, uma vez que estão relacionadas com duas dimensões muito importantes para nossa setor: de um lado, o incêndio que lançou em cinzas pelo céu milhares de registros históricos, do outro, o maior e mais terrível acidente trabalhista do país.

Registros assim servem para refletirmos sobre os erros nossos do passado e não mais cometermos. Aliás, essa é uma das finalidades da história, certo?

O velho e o novo

É interessante notar que a exposição tem elementos antigos e elementos novos, que, paradoxalmente, interagem e compõem um todo para entendermos o nosso presente e refletirmos sobre o nosso futuro, enquanto servidores do TRT-2, enquanto pessoas e enquanto instituição.

E quase íamos nos esquecendo. A nossa própria Seção também sofreu mudanças com a passagem do tempo. Sim, certamente amadurecemos muito em nossa metodologia de pesquisa histórica, mas nosso nome também mudou: agora somos o “Centro de Memória do TRT-2”. Um nome que se encaixa melhor com aquilo que esperamos de nosso setor: um local de encontro de memórias e narrativas, um centro onde toda história importa. Porque nosso trabalho é mais do que contar as histórias desse que é o maior Tribunal Trabalhista do Brasil, nosso trabalho é dar vida a elas, aos documentos, aos objetos. É marcar a importância que este Regional tem com o Brasil, na luta pela democracia e por relações de trabalho mais justas e humanas.

Se tem exposição, tem histórias (contadas por quem delas participou)

A nova exposição terá como evento de abertura a palestra “Entre Memória e História”. Assim como aconteceu na primeira edição, em 2018, convidamos um magistrado aposentado e a nossa atual presidente. Juntos, eles contarão as histórias de suas trajetórias profissionais, permitindo que, por meio delas, possamos compreender as mudanças ocorridas no TRT-2 e na Justiça do Trabalho como um todo.

Nossos convidados neste ano são o desembargador aposentado José da Carlos da Silva Arouca e a desembargadora-presidente Rilma Aparecida Hemetério.

O evento seguirá o modelo do ocorrido ano passado, com o ministro aposentando do TST, Pedro Teixeira Manus, e o então presidente do Regional, Wilson Fernandes.

A história do dr. Arouca

Assim como Manus, José Carlos da Silva Arouca tem a Justiça do Trabalho permeando toda a sua vida.

Nascido em 1935, Arouca é registro vivo da Justiça Trabalhista Paulista, tendo atuado como advogado durante décadas, defendendo diversos grandes sindicatos. Trabalhou em seu escritório com nomes de peso como Darmy Mendonça e Rio Branco Paranhos.

Arouca é uma voz a ser respeitada quando o assunto é sindicalismo no Brasil, tendo vasto conhecimento empírico sobre o direito sindical durante e antes da ditadura, assim como na sua reestruturação no processo de redemocratização.

José Carlos da Silva Arouca
Desembargador aposentado José Carlos da Silva Arouca em entrevista para o TRT-2 em 2015. Imagem: reprodução.

Aliás, a ditadura tem impacto impressionante sobre a vida de nosso palestrante. Foi preso, perseguido e impedido de assumir o cargo de juiz do Trabalho substituto no concurso em que logrou quinto lugar. Mesmo com essa situação, Arouca continuou advogando na Justiça do Trabalho até que, mais de 30 anos depois do concurso, ingressou no Tribunal como desembargador, pela vaga destinada à OAB no quinto constitucional.

Como desembargador, atuou na Seção de Dissídios Coletivos, estando do outro lado da mesa em que atuou tantos anos como advogado sindical.

Essa e tantas outras histórias foram contadas no dia 13 de maio de 2019, às 17h, no auditório do 24º andar do Ed. Sede do Tribunal.

Exposição aberta ao público

A exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva” ficou aberta para visitação de 13 de maio a 12 de julho de 2019, no térreo do Ed. Sede (r. da Consolação, 1272). com entrada livre e gratuita. Veja aqui como foi.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

Acesse também o Centro de Memória Virtual e conheça nosso acervo histórico, disponível para consulta e pesquisa.


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Publicado por Belmiro Fleming

Cientista social, faz parte do TRT-2 desde 2016, tendo integrado anteriormente o TRT-15 por quase três anos. De ascendência nipo-irlandesa, sempre se interessou por história, seja de seus antepassados, seja dos lugares em que viveu. Acredita que a modernidade de São Paulo traz uma carga histórica, algumas vezes esquecida.

6 comentários em ““MEMÓRIA DO TRT-2”: UMA EXPOSIÇÃO EM CONSTANTE CONSTRUÇÃO

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