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A CONSTRUÇÃO DE UM ACERVO

Entre os dias 13 de maio e 12 de julho, o Ed. Sede do TRT-2 recebeu a exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva”. Aberta ao público em geral e de forma gratuita, a exposição recebeu visitantes dos mais diversos tipos, que puderam conferir parte da história do TRT-2 e de seu acervo histórico.

Esse foi o terceiro endereço que recebeu a exposição, que foi inaugurada no Fórum Ruy Barbosa, em maio de 2018, seguiu para o Fórum José Amorim, em São Bernardo do Campo, em outubro do mesmo ano, e, desde 13 de maio, esteve no Ed. Sede.

De 2018 pra cá, muita coisa aconteceu: a equipe do Centro de Memória conheceu pessoas, ouviu histórias, descobriu detalhes antes despercebidos. Ao longo desse tempo, pudemos contar com muitas contribuições, o que nos ajudou a preencher diversas lacunas. Além disso, recebemos doações. Infelizmente, nem tudo é possível colocar na exposição, por mais interessante e importante que seja.

Queríamos ter tempo e nos desdobrarmos em vários para conseguirmos gravar entrevistas com cada um que entra em nossa sala, que nos telefona, que conversa com alguém de nossa equipe no espaço expositivo. Queríamos ter espaço para deixarmos tudo exposto ao longo do ano, de forma permanente, e contarmos também essas (novas) histórias. Quem sabe uma campanha coletiva apoiando um espaço permanente para a Memória?

Aos poucos, no entanto, começamos a montar, dentro do Acervo Histórico do Tribunal, um conjunto composto por itens pessoais, doados por servidores e magistrados (algo que não tínhamos até o início de 2018).

Agora conseguimos acrescentar as lembranças de diversas pessoas em nossa narrativa institucional, preenchendo as histórias oficiais também com emoções, sensações e sentimentos. Adicionando memórias às nossas histórias, na tentativa de reconstruir o ambiente existente em determinadas épocas. E assim podermos passar às pessoas o que era o Tribunal em determinado período, fazendo com que ele seja relembrado por quem ali estava e descoberto por quem entrou no TRT-2 somente alguns anos depois.

Doações

Nesses últimos meses, recebemos diversas doações. E ficamos muito felizes com isso. Ainda mais por sabermos que essas doações vêm de servidores e de magistrados que confiam em nosso trabalho e que acreditam que seus tão queridos materiais (fotos, documentos, objetos) serão bem cuidados pelo Centro de Memória.

Foram doações das mais diversas partes. A Secretaria de Comunicação Social do Tribunal doou caixas e caixas de DVDs, CDs e álbuns de fotografia. Todos foram digitalizados e inventariados por nossa equipe – e aqui cabe uma menção especial ao Belmiro Fleming, um dos servidores do Centro de Memória, que se dedicou por cerca de dois meses (sem perder o resto do trabalho de vista) para observar cada uma das imagens, pesquisar e tentar compreender as personagens daquelas fotos.

A Secretaria-Geral Judiciária doou bingos e carimbos, que foram, em parte, usados na exposição. E que decoram nossa sala no Ed. Millenium (que, por sinal, segue de portas abertas para receber todo aquele interessado em contar sua história).

A 1ª Vara de Sã Paulo localizou, em 2019, o que hoje é o nosso mais antigo processo. Datado de 1941, ele conta a história de Vicentina Alves de Freitas  que, segundo o relato do advogado, era mulher negra, pobre, e, muito provavelmente, filha de escravos que foi “doada” à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O processo é hoje objeto de ampla pesquisa realizada pelo Centro de Memória, cujos resultados serão divulgados em breve. A localização do processo, por si só, é fruto do trabalho, iniciado em agosto de 2018, e ainda em prosseguimento, de divulgação do selo Acervo Histórico e da campanha de conscientização quanto à preservação de nossos documentos e objetos mais importantes.

A Biblioteca Nebrídio Negreiros (não dá para perder a oportunidade de colocar o nome do espaço, que homenageia um de nossos primeiros presidentes, responsável por sua criação em 1945) localizou o primeiro edital do concurso de servidores do TRT-2, realizado em 1949. E que agora consta na exposição que se encontra no Ed. Sede.

primeiro concurso de servidores do TRT-2
Imagem do edital do primeiro concurso para servidores do TRT-2, em 1949.

A Coordenadoria de Planejamento e Gestão de Pessoas enviou recentemente uma relação com todos os magistrados que foram titulares nas varas do interior, um rico levantamento feito pelo setor que nos ajudará bastante na reconstrução da história das varas trabalhistas da 2ª Região.

Acervos individuais

Mas não é só. Nosso acervo ganha corpo também quando falamos em doações individuais. Aliás, é importante mencionar que as doações podem ser tanto pelo objeto/documento físico quanto por meio digital. Podemos digitalizar a sua foto e devolvemos a original.

No ano passado, nosso coração quase transbordou de alegria ao recebermos fotos da servidora aposentada Maria Luisa Araújo (filha do também servidor, falecido, João Baptista Araújo – que durante anos trabalhou na Distribuição do TRT-2). Ou ainda da servidora Isabel Ramos Fontana,  que nos trouxe fotos da mudança do fóruns dos antigos prédios, descentralizados, para a Barra Funda e nos fez ter a real noção do que eram os antigos prédios

Ou ainda do casal de servidores aposentados Vera Isilda de Aguiar e Auri Fernandes Gomes, que nos trouxe fotos de momentos de confraternização. Ou Maria do Carmo Sacramento de Castro, pessoa que conhecemos por meio da campanha do recadastramento de 2018 (em que convidávamos nossos visitantes do mês de março para uma visita regada a um café ou um chazinho).

Maria do Carmo contou histórias, trouxe fotos, mas, acima de tudo, foi responsável por nos apresentar a um grupo de aposentados muito especial para a Memória, com quem já almoçamos, recebemos para visita guiada e nos encontramos vez ou outra nas dependências do Tribunal. É ela ainda nossa grande conexão a uma das mais admiráveis histórias do Tribunal: o desembargador aposentado Júlio de Araújo Franco Filho, magistrado de 101 anos – a quem não cansamos de fazer menção. 

Uma das integrantes desse grupo é também a desembargadora aposentada Maria Cristina Fisch, que nos trouxe documentos, jornais, histórias, além de diversas fotos. Uma delas, por sinal, do fim da década de 70, mostra uma sorridente servidora (dra, Fisch foi servidora antes de passar no Concurso da Magistratura, anos depois) à frente de uma máquina datilográfica azul. Para nossa surpresa, um modelo semelhante ao que havíamos já separado para uma das vitrines da exposição (uma reprodução da foto está, inclusive, ao lado da máquina).

A servidora Marley Aparecida de Souza Almeida é outra pessoa que contribuiu com muito material para o acervo do Centro de Memória. Semanas antes da inauguração da exposição no Fórum Ruy Barbosa, ela cedeu dois álbuns de fotografias recheados de histórias e lembranças sobre os primeiros anos da creche (ainda no casarão localizado na r. da Consolação) e do dia a dia dos servidores na década de 1990. Esses álbuns fizeram sucesso quando as “tias da creche” puderam se identificar em muitas das fotos e lembrar de momentos passados há mais de 20 anos. Vários itens do acervo pessoal de Marley foram utilizados na exposição. Sua colega, a servidora Sônia Maria Garcia Fernandes, contribuiu com muitas histórias e causos. Um deles, “Ratos não comem uva-passa”, faz parte do artigo produzido pelo Centro de Memória, em março de 2019, sobre os 15 anos de inauguração do Fórum Ruy Barbosa.

Ricardo José da Costa Teixeira, o Anjinho, grande parceiro do Centro de Memória, é o dono do ventilador que decora a reprodução da Junta de Conciliação. A peça faz parte do acervo pessoal do servidor (colecionador de objetos antigos), e que também cedeu para a exposição o cartaz original do “Mês de Arte do Servidor da Justiça do Trabalho da 2ª Região”, realizado em 1995, evento do qual participou.

Mais acervos pessoais e muito trabalho para garantir resultados

Por se tratar de um setor novo (começamos nosso trabalho de pesquisa em janeiro de 2018), o Centro de Memória lida com muitos desafios em seu dia a dia. Para começar, falamos de um setor que pesquisa a história de um tribunal de quase 80 anos. Mas que, na verdade, passou a olhar com maior preocupação para a memória institucional no ano passado. Além disso, exatamente por se tratar de um setor novo, enfrentamos o desafio de mostrar para as pessoas qual é o nosso trabalho: o que fazemos, por que fazemos e o quanto é importante preservarmos a nossa própria história.

Não é possível descrever a felicidade que nos dá ao percebermos que nosso trabalho começa a ser percebido, começa, de certa forma, a ganhar força e passa a ser divulgado, ainda que no boca a boca, permitindo que outras pessoas tomem conhecimento, lembrem-se de nós e tragam também as suas contribuições.

São deste ano de 2019 doações como a da servidora aposentada Benedicta Savi, que nos presenteou com a máquina datilográfica portátil pertencente a seu companheiro, falecido em 1982, Carlos de Figueiredo Sá. Sá foi juiz do Tribunal entre 1939 e 1969, quando foi aposentado pelo AI-5 e partiu para o exílio. Foi com essa máquina que Sá datilografou suas incontáveis sentenças proferidas no Tribunal. Foi também com ela que escreveu saudosas cartas diretamente de seu exílio.

Carlos de Figueiredo Sá, máquina datilográfica portátil
Máquina datilográfica portátil, pertencente ao juiz do TRT-2 Carlos de Figueiredo Sá.

A servidora aposentada Akiko Akiyama entrou em contato com o setor pouco antes da inauguração da exposição no Ed. Sede. Akiko visitou o Centro de Memória, trazendo consigo imagens de quem serviu a Presidência do Tribunal por quase uma década. São delas também as primeiras imagens que temos das famosas festas dadas pelo ex-presidente Rubens Ferrari (gestão 1986-1988), um dos mais queridos gestores que esse Regional já teve. Aliás, no dia da inauguração da exposição, nossa equipe deparou-se com uma senhora que olhava com muito carinho para o painel de presidentes da década de 80. Era a servidora aposentada Ilza Kuchida, viúva de Rubens Ferrari, que nos garantiu uma visita recheada de fotos e lembranças.

O recém-aposentado Luiz da Silva Falcão presenteou-nos também com imagens que marcaram a história mais recente do TRT-2, como os momentos de greve dos servidores, na década de 2000, as reuniões dos representantes do sindicato na reta final da construção do Fórum Ruy Barbosa e algumas reportagens do jornal do sindicato.

Otacílio Esteves Pereira, servidor aposentado, que conhecemos em 2018 à época do recadastramento, retornou recentemente com presentes: além de fotos da década de 80, quando pertencia ao quadro da Segurança Institucional, trouxe ainda crachás antigos, expostos em uma de nossas vitrines, além do telegrama que recebeu no ato de sua nomeação, em 1981, com a relação de documentos necessários para a posse.

Otacílio Esteves Pereira, crachás do TRT-2
Crachás do servidor aposentado Otacílio Esteves Pereira. Em cima, o telegrama recebido pelo servidor no ato de sua nomeação. Otacílio ainda trouxe, impressas, fotos de seu acervo para doação ao Centro de Memória.

O servidor Valter Nakamura (sim, o Seu Nakamura) presenteou-nos com a fotografia do segundo caminhão pertencente ao TRT-2. Seu Nakamura dirigiu o caminhãozinho Fargo que o Tribunal tinha em 1980. O veículo carregou todos os móveis e documentos existentes na antiga sede do Tribunal, na av. Rio Branco, para o novo prédio da r. da Consolação.

Valter Nakamura, Seu Nakamura, caminhão do TRT-2, veículos do TRT-2
O servidor Valter Nakamura, o Seu Nakamura, em foto do início da década de 80. A imagem, que mostra o servidor em caminhão do TRT-2, está na vitrine dos anos 80, na exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva”. Foto: acervo Valter Nakamura.

São tantas histórias, tantas contribuições. Não nos resta nada além de agradecer a todos aqueles que contribuíram ao longo desse um ano e meio de Centro de Memória. A muitos que, inclusive, que não foram citados aqui. Aguardamos mais visitas, mais histórias e mais descobertas. Todos são sempre muito bem-vindos.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

Acesse também o Centro de Memória Virtual e conheça nosso acervo histórico, disponível para consulta e pesquisa.


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Publicado por Christiane Teixeira Zboril

Radialista, jornalista e historiadora, é especialista em Comunicação Pública. Possui experiência com produção de rádio e TV, assessoria de imprensa, eventos e gestão de mídias sociais. Adora fazer planos, conhecer novos lugares e pessoas, além de ouvir uma boa história. Desde 2012, é servidora do TRT-2.

2 comentários em “A CONSTRUÇÃO DE UM ACERVO

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