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PARCEIROS DA MEMÓRIA: SCHEILLA BREVIDELLI

Scheilla Regina Brevidelli é servidora do TRT-2 desde 1991. Formada em Psicologia, entrou no Tribunal com seus vinte e poucos anos. Passou por algumas juntas (esse era o nome dado às Varas do Trabalho até 1999): pela 4ª JCJ, de 1991 a 1994 e pela 7ª JCC, de 1994 a 2003, quando decidiu que estava na hora de compreender melhor todos aqueles termos e procedimentos que via em seu dia a dia. Foi fazer direito na Universidade do Largo de São Francisco, onde obteve sua segunda graduação.

De lá para cá, Scheilla trabalhou por anos na segunda instância e retornou para as varas, já no Fórum Ruy Barbosa. Atualmente, às vésperas de completar 30 anos de TRT-2, está lotada na Seção de Destinação Documental, onde utiliza todo o conhecimento adquirido ao longo de sua trajetória em nossa instituição para ajudar a selecionar os documentos que farão parte do acervo permanente do TRT-2.

Scheilla Brevidelli, em registro de 2019. Foto: acervo pessoal Scheilla Brevidelli.

Em seu lado B, por assim dizer, é poetisa. Sua versão escritora surgiu em 1995 (não à toa publicamos este texto na sexta-feira, 24 de julho, véspera do Dia do Escritor). Scheilla tem três livros publicados: “Flores que voam”, “Hilstianas v.1” e “Seu escrito era uma voz” (leia a reportagem sobre o lançamento do mais recente livro dela) e, conhecendo nossa parceria, sabemos que mais coisa virá em breve, afinal, ela não para. Mantém ainda um blog, o “Uma Prosa Boa”, e um perfil no Instagram, o @scheillabrevidelli_arte, em que posta poemas e “fala sobre arte de uma forma geral”, como recentemente foi publicado no “Bom Dia TRT”.

Scheilla, ao lado do marido, o também servidor do TRT-2, Clayton Hirose, durante a 8ª Mostra de Arte do Sintrajud, lançando o livro “Seu escrito era uma vez”. Foto: Sintrajud.

É do tipo de pessoa que adora viajar (já visitou algumas dezenas de países) e sempre está envolvida em manifestações culturais. Por isso não mediu esforços para participar das poucas (mas marcantes) atividades proporcionadas pelo TRT-2 (e também pelo Sintrajud) ao longo dos anos. Suas participações, inclusive, foram representadas na exposição “Memória do TRT-2: uma construção coletiva”. Foi dela também a ideia de realizar o “Festival de Talentos” (no qual fez a apresentação de abertura), que aconteceu em outubro de 2019, em uma longínqua época em que aglomerações eram permitidas.

Scheilla se apresenta no Festival de Talentos do TRT-2, em outubro de 2019. Foto: acervo TRT-2.

Scheilla entrou em contato com o Centro de Memória no meio da pandemia do coronavírus, inspirada pela live realizada pelos colegas Eduardo Rocha (diretor da Coordenadoria de Gestão Documental) e Heroneudo Araújo (arquivista do Tribunal) – falamos sobre a apresentação e o artigo produzido pelos servidores do TRT-2 no texto que publicamos recentemente: “Quatro meses de teletrabalho“.

Scheilla queria falar sobre a importância da análise criteriosa de documentos para a preservação de nossa história (nem precisamos dizer o quanto esse tema é maravilhoso para nós) – mas relatou algo ainda mais sensível: a possibilidade de, após diversos anos, voltar a encontrar processos nos quais ela participou em suas antigas lotações. Ver esses processos, além de ser um resgate de suas próprias memórias, permite que possamos interpretar o conteúdo ali existente indo muito além de procedimentos e pedidos. Quase como um mantra, aqui no Centro de Memória repetimos que processos contam histórias. E são elas que podemos guardar em nosso acervo permanente. E contar por meio de nossos projetos.

Scheilla e o marido, Clayton, em registro no Monte Sinai. Foto: acervo pessoal Scheilla Brevidelli.

Por isso, ficamos muito felizes por saber que existe alguém como você, Scheilla, apaixonada pelo seu trabalho e que, sobretudo, reconhece a importância dessa atividade, na Destinação Documental. Obrigada por compartilhar suas memórias. 

Scheilla hoje estreia uma nova editoria aqui na página “Memórias Trabalhistas”, “Parceiros da Memória”, que tem como objetivo dar voz a servidores, magistrados, advogados e quaisquer pessoas que tenham uma relação com a 2ª Região Trabalhista. Aqui elas ganham um espaço para relembrar sua trajetória e compartilhar suas memórias.

São de Scheilla as palavras a seguir:

Depois de quase 30 anos de trabalho no TRT-2, o que mais carrego comigo são memórias. E elas se entrelaçam na tarefa de destinação documental, que exige de mim algo muito importante: a verificação de processos que estão em arquivo temporário e a decisão se eles serão eliminados ou arquivados de maneira permanente, fazendo parte do acervo histórico do Regional. Por felizes coincidências, os processos que manuseio muitas vezes referem-se a processos com que trabalhei nas varas em que estive lotada em determinadas épocas.

Incentivada pela live conduzida pelo diretor do Arquivo Geral, Eduardo Rocha, em conjunto com o chefe do Arquivo Administrativo, Heroneudo Araújo, este texto busca refletir sobre a importância do Arquivo Geral como um repositório de memória e não apenas como um setor com a função de mero descarte, imagem que se consolidou erroneamente dentro da cultura organizacional da instituição.

É um momento de extrema ressonância interna estar num lugar em que a tarefa diária exige de mim recordar e ressignificar processos e documentos arquivados provisoriamente no setor.

A Seção de Avaliação e Destinação Documental atua fazendo o que seu nome diz: avalia a importância do material contido no processo para decidir por sua guarda permanente ou descarte, fazendo a correta destinação do documento. 

Depois de quase 30 anos de trabalho no TRT-2 (aniversário que se dará em 6 de fevereiro de 2021), o que mais carrego comigo são memórias. E elas se entrelaçam na tarefa de destinação documental, que exige de mim algo muito importante: a verificação de processos que estão em arquivo temporário e a decisão se eles serão eliminados ou arquivados de maneira permanente, fazendo parte do acervo histórico do Regional.

Nas dependências do Arquivo Geral do Tribunal, Scheilla prepara-se para a análise de processos. Foto: acervo pessoal Scheilla Brevideli .

Por felizes coincidências, os processos que manuseio, muitas vezes, são processos com que trabalhei nas varas em que estive lotada em determinadas épocas. Esses são momentos de profunda emoção, nos quais reconheço minha letra na anotação da capa, ou a letra dos colegas, o que me remete momentaneamente a outros tempos e outras vivências, transportada magicamente pelas lembranças.

Posso ver então minhas anotações como secretária de audiências na 7ª Vara, substituindo a colega Celina [Rodrigues Pessoa – já aposentada] e trabalhando com o dr. Maurício Miguel Abou Assali, atualmente titular da 1ª Vara. Ou cálculos atualizados por mim, antes da confecção de documentos da execução. Ou as notificações da 4ª Vara, a minha primeira lotação. Vejo todo o capricho em colocar corretamente o carbono e as folhas para que tudo ficasse perfeito, pois o trabalho era realizado em máquina de escrever manual com papel e carbono para cópia.

Foto dos anos 90, em tempos de 7ª Junta de Conciliação e Julgamento, no prédio da av. Ipiranga. Foto: acervo pessoal Scheilla Brevidelli.

Todo o meu desconhecimento do direito à época, sem entender o conteúdo dos despachos notificados por mim,  fez surgir em mim a sede de aprender essa linguagem jurídica, o que me levou à minha segunda formação no Largo São Francisco, em tempos de felizes experiências e descobertas, através de professores incríveis com quem convivi, e que me ensinaram a enxergar no direito uma possibilidade de criação, através das palavras da lei.

Scheilla ao lado de colegas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Foto: acervo pessoal Scheilla Brevidelli.

Outra coisa que aguça minha paixão pela tarefa que desempenho é que sempre me interessei por psicologia organizacional, aquele ramo que estuda o sofrimento do trabalhador no desempenho de suas tarefas, as defesas psicológicas envolvidas no stress e todo esse mundo incrível e subterrâneo do trabalho. Ao separar processos com laudo pericial de insalubridade ou periculosidade positivos, processos com doenças ocupacionais, com dano moral ou material, estão ali registrados dados importantes para os pesquisadores da área: quais tarefas e empresas mais causam doenças e sofrimento a seus trabalhadores, histórias e dados que talvez não existam mais num futuro próximo, no qual a automação e o trabalho remoto trazem novos desafios e novos sofrimentos a serem reparados e contados em outros processos.

Eu me interesso também por processos que versam sobre empresas extintas, grandes, famosas numa época e que não mais existem e podem formar nosso acervo histórico. E os processos com sentença onde há reconhecimento de vínculo, algo importante como prova para alguém que precisará desses dados num futuro.

Percebo a importância de o setor da destinação ser formado por pessoas como eu, com idade suficiente para abarcar memórias e saber reconhecê-las nos processos como algo importante a ser guardado e preservado. Alguém que saiba ler o processo e entender onde encontrar as informações, qual o fluxo normal do processo e seus desdobramentos.

Não se trata apenas de mexer em processos velhos, com ácaros (somos afeitos à máscara e luvas antes da Covid-19), é tarefa de arqueologia, de passado, de afeto, de vidas contadas em páginas e palavras… É algo que me emociona, que me impulsiona a sempre fazer de maneira atenta tarefas aparentemente simples, pensando no futuro e na importância de tudo aquilo.

Processos nas dependências do Arquivo Geral do TRT-2. No meio deles, histórias de pessoas e empresas que esperam para ser descobertas e preservadas. Foto: acervo pessoal Scheilla Brevidelli.

É preciso ressaltar a importância do arquivo como um lugar de memória e de guarda de documentos, que um dia servirão de prova para alguém conseguir demonstrar um direito a que faz jus, em alguma situação futura.

E grande parte desse movimento de resgate da memória se inicia na Destinação Documental, que eu poderia dizer se tratar do coração do Arquivo. Sua importância remete à necessidade da capacitação dos servidores que lá trabalham, e exige a quebra da imagem de lugar de descarte de papéis e de pessoas. 

É uma honra e uma alegria fazer parte desse time.


Scheilla Brevidelli é servidora do TRT-2 desde 1991. Formada em Psicologia e em Direito, atou na primeira e na segunda instâncias. É poetisa e possui três livros publicados: “Flores que voam”, “Hilstianas v.1” e “Seu escrito era uma voz”. Mantém ainda um blog, o “Uma Prosa Boa”, e um perfil no Instagram, o @scheillabrevidelli_arte. Atualmente, está lotada na Seção de Destinação Documental.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

Acesse também o Centro de Memória Virtual e conheça nosso acervo histórico, disponível para consulta e pesquisa.


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Publicado por Christiane Teixeira Zboril

Radialista, jornalista e historiadora, é especialista em Comunicação Pública. Possui experiência com produção de rádio e TV, assessoria de imprensa, eventos e gestão de mídias sociais. Adora fazer planos, conhecer novos lugares e pessoas, além de ouvir uma boa história. Desde 2012, é servidora do TRT-2.

3 comentários em “PARCEIROS DA MEMÓRIA: SCHEILLA BREVIDELLI

  1. Cris obrigada pela linda narrativa de contextualização do meu próprio texto. É realmente uma honra participar com parceira deste projeto lindo da Memória!!!

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