Eu e a 25ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo
Hoje encontrei uma fotografia minha de 1979, da época em que tomei posse como atendente judiciário, no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.
Era uma menina…
Passei no concurso e tomei posse em maio de 1979, casei em dezembro de 1979 e pedi exoneração em janeiro de 1982, ao voltar da licença-maternidade (minha filha Andreia, também funcionária há uns 10 anos). Prestei outro concurso e voltei em agosto de 1990 para uma segunda etapa.

Nesta primeira etapa, atuei na 25ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo, que ficava na av. Cásper Libero, sob a direção do dr. Itagiba Souza de Toledo, tendo como assistente a dra. Jane Basso Gambi, que morreu recentemente, os colegas Cleide Nogueira, que me ensinou tudo, a Sandra que eu substitui na audiência, Izilda e Paulinho Ferrari que ficavam no balcão, Bernadete, João Batista, Fatiminha, Fátima e os oficiais de justiça que ficavam na Vara, Eloi, Sebastião, Fernando… Devo ter esquecido alguém, com certeza…

Naquele tempo, e é muito engraçado usar esse termo, não havia briga por função comissionada porque não existiam cargos… Eu vinha da empresa privada e era excelente datilógrafa, frise-se datilógrafa, fui direto para a audiência e tive o prazer de trabalhar com grandes juízes.
O juiz-presidente era o dr. Milton Rodrigues, depois dr. Aluysio Mendonça Sampaio, um poeta. Trabalhei em audiência com o dr. Pedro Paulo Teixeira Manus e o dr. Nilton Uzzeda, que eram substitutos.
Havia juízes classistas, lembro-me do dr. Waldemar Castilho do Amaral, do Sindicato dos Securitários.
Na Secretaria, tudo em ordem, muito espaçoso, havia uma gaveta para cada dia da semana para acomodar os processos de audiência… Folgadamente! E eles não sumiam!!!
Os juízes não tinham assistentes. O dr. Milton Rodrigues costumava chegar mais cedo e me chamava no gabinete para ditar as sentenças do dia.
Para mim era muito engraçado o “palavreado” jurídico. Eu tinha segundo grau e sempre trabalhei em empresa privada, principalmente na área securitária onde conheci meu marido.
Achava muito estranho chamar o juiz de incompetente e ele quase ficar feliz (um processo a menos…), os advogados pedirem “descarga” de processo, enfim, coisas que hoje acho muito natural.
Uma vez, logo na primeira semana, dr. Milton ditava uma sentença de sucessão empresarial, novidade total para mim e, cada vez que ele dizia “a suscitada, a sucessão, a sucessora”… E por aí vai. Me deu um branco e não conseguia me lembrar com quanto “esses” era a tal palavra. Não tive dúvida, escrevi uma de cada jeito.
Perguntar para o juiz? Jamais!!! Ele me dava medo.
Depois, Itagiba veio me contar que perguntou ao juiz o que achou da nova datilógrafa e ele responde: “Muito boa datilógrafa, a menina. Mas tem um português bem fraquinho…”.
Resultado: tive que datilografar a sentença novamente, em cinco vias e carbonos como era o costume, e ainda aguentar essa “gozação” por muito tempo.

Hoje, provavelmente eu faria diferente.
Naquele tempo, e olha a expressão aí de novo, havia bem menos trabalho, bem mais funcionários, e espaço.
A sede do Tribunal era na av. Rio Branco, na av. Ipiranga ficava a Distribuição e as Juntas da 1ª à 23ª.
O prédio da av. Cásper Libero era, sem dúvida, o melhor de todos. Uma Junta por andar, começando pela 24ª JCJ, que ficava na sobreloja, junto com a Expedição, se não me engano, e terminava na 36ª. A 25ª ficava no primeiro andar com uma ampla sala de espera, com janelas grandes e a escadaria terminava em frente ao relógio de ponto, daqueles que tinha que enfiar o cartão de ponto e puxar a manivela. Normalmente, 10 a 15 minutos antes das 19h formava uma fila enorme de funcionários para “marcar a saída”.

O horário era das 11h às 19h. Havia horário de estudante das 10h às 18h ou das 12 às 20h. Rigoroso. Não havia compensação, mas tínhamos o direito a 1 h de atraso por 3 vezes no mês. Também três faltas pelo tal artigo 123, que até hoje não sei o que é.
O diretor tinha que assinar os cartões de ponto e era responsável pela correta marcação.
Não tinha horário de almoço. Na maioria das vezes, trazíamos marmita e havia intercâmbio de mistura na salinha improvisada para almoço. Muito divertido!
Com certeza, ficaram grandes e boas memórias dessa época. Pessoas queridas com quem ainda tenho contato e motivação para, em 1990, prestar concurso e tomar posse novamente.
Em agosto de 1990, recomecei na 38ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo, na av. Rio Branco.
As coisas já tinham mudando muito. A sede do TRT já estava na Consolação, e no prédio da av. Rio Branco estavam as Juntas da 24ª a 45ª… Na av. Ipiranga, Distribuição de Feitos e as Juntas da 1ª a 14ª e na av. Cásper Libero da 15ª à 23ª… Tudo espalhado… Tudo separado… Um universo!
Nada era mais como naqueles bons tempo de 25ª. Quantidade de processo, de funcionários, as disputas por verbas, enfim… Precisei achar outras motivações para ficar até hoje. Mas valeu a pena!
A 38ª estava no 7º andar e a primeira coisa que vem a cabeça dessa época é a voz dos meninos do elevador (Eduardo, Adriano …) dizendo: “O elevador para no 5º, 8º e 11º andar)…“
Posso dizer sem medo de errar que tudo que sei de Justiça do Trabalho aprendi ali, com minha chefe Marly, a juíza titular, dra. Lucile Andrea Fittipaldi Moralles, ainda com os juízes classistas, dr. Alisson Zaparolli e dr. João Fortes, a maior parte do tempo, os juízes com quem trabalhei. Todos os colegas que passaram pela minha vida, muitos hoje são excelentes juízes, e todas as mudanças que acompanhei no Judiciário Trabalhista, começando pelo nome para Varas do Trabalho, extinção dos juízes classistas, informatização, tudo me fez crescer como pessoa e como servidora pública.
Em 1997 fiz curso de Direito. Fui para a 13ª Vara do Trabalho com toda a equipe da 38ª Vara, com o dr. Antero Arantes Martins como titular.
Mas acho que isso é história para mais um capítulo, se me derem oportunidade.

Isabel Ramos Fontana é servidora do TRT-2. Ingressou no TRT-2 em 1979, mas em 1982 pediu exoneração após dar à luz sua filha, Andréia Ramos Fontana (servidora do TRT-2, desde 2005). Em 1990, depois de atuar por alguns anos na iniciativa privada, prestou concurso e ingressou novamente no TRT-2, formando-se em Direito. Atuou nas 25ª, 14ª e 88ª varas do trabalho e, atualmente, é diretora da 5ª Vara do Trabalho da Zona Sul.
Este texto foi publicado no contexto da campanha “80 anos em Memórias”, que integrou as atividades em comemoração aos 80 anos de instalação da Justiça do Trabalho da 2ª Região, realizadas pelo Centro de Memória do TRT-2 no ano de 2021. Mais contribuições de servidores, servidoras, magistrados e magistradas do TRT-2 (da ativa e aposentados) podem ser lidas aqui.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.
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Servidora exemplar e competente. Tiveram sorte todos os que puderam partilhar de sua companhia e vivacidade nesse longo trajeto. Compartilhei com ela o curso de Direito e muitos anos de trabalho no TRT da 2ª Região, embora nunca diretamente. Somos grandes amigas, felizmente.
Carmen Mejias Bressan. Matrícula 77429
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Parabéns à todos que fazem, fizeram e farão parte desta Egregia Corte de Justiça!
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