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80 ANOS EM MEMÓRIAS: MARIA DO CARMO SACRAMENTO DE CASTRO

Quando concluí o curso de Direito em 1976, com muita dificuldade financeira, tentei em vão procurar nos escritórios de advocacia de diversas áreas, em São Paulo,  uma oportunidade para trabalhar e adquirir prática nos ensinamentos adquiridos.

No concurso  para cargo de auxiliar judiciário no TRT da 2ª Região, vi a chance de ingressar no serviço público e adquirir, finalmente, a estabilidade profissional almejada. Meu  grande incentivador foi meu saudoso pai, Enéas de Castro, meu poeta querido.

A servidora Maria do Carmo em fotografia com o pai.

Assim, com 32 anos de idade, fui nomeada e lotada, em 1978  na 16ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo, cujo presidente era o juiz Floriano Corrêa Vaz da Silva e a diretora de Secretaria a sra. Heloisa Coutinho, dos quais guardo muita gratidão e boas lembranças.  

A torcida e a festa em casa com essa nomeação foi grande, pois, nessa época, o pensamento era ser o serviço público o melhor e mais seguro emprego para mulheres. Assim, iniciei minha carreira de servidora pública na Justiça do Trabalho em outubro de 1978.

Cuidadoso, meu pai foi conhecer os arredores do prédio da Justiça do Trabalho na av. Ipiranga,  para ver e indicar um lugar melhor para eu almoçar. Passados uns dias, ele questionou se eu estava feliz no novo emprego. Abri meu coração e falei que não, pois  fazer autuação de processo, bater carimbo, abrir fichas, procurar processo para entregar aos advogados, muitas vezes impacientes e até mesmo grosseiros com a espera no balcão da secretaria,  não me satisfaziam.

Ipiranga, TRT-2
O prédio do TRT-2 da av. Ipiranga: endereço das 23 primeiras juntas da 2ª Região a partir de 1971. Foto: acervo TRT-2.

Após o meu relato,  certo dia, sem que eu soubesse, meu pai foi ao Tribunal, na av. Rio Branco. Pretendia, na sua simplicidade, falar com o presidente do Tribunal, na época, juiz Nelson Virgílio do Nascimento. O ascensorista, porém, a quem pediu orientação,  o aconselhou a falar com o vice-presidente. E assim ele fez. Poeta que era, ofereceu ao vice-presidente, juiz Bento Pupo Pesce, que o recebeu muito bem, uma poesia que havia feito, e falou  sobre o descontentamento de sua filha no trabalho.

Dr. Bento, informado que minha nomeação era muito recente, aconselhou minha permanência por dois anos na Junta, adquirindo experiência nos trabalhos da primeira instância, para depois pleitear transferência para o Tribunal.

Durante o período que fiquei na Junta, não conheci dr. Bento. Mas o conselho que me deu através do meu pai foi o mais acertado, para me preparar melhor, enriquecer meus conhecimentos e adquirir experiência no trabalho,  investindo assim na minha carreira como servidora da Justiça do Trabalho.    

Dois anos depois, em 1980, pedi transferência para o Tribunal, e fui lotada no Setor de Cadastro, cuja diretora era Cordélia Itália Sonego. Alguns dias depois, Cordélia me perguntou se eu estava satisfeita no setor. Com muito respeito e sinceridade, eu disse que não. Não esperava ter como função examinar cartões de ponto, e verificar quantos atrasos os funcionários tinham dado no mês, mas disse que esse trabalho iria ser feito com todo meu empenho, responsabilidade e da melhor maneira possível.

Maria do Carmo Sacramento de Castro, TRT-2
Nomeação da servidora Maria do Carmo Sacramento de Castro, em 1980.

Pouco tempo depois, Cordélia foi solicitada para indicar uma funcionária do Setor de Cadastro para trabalhar na Secretaria da Presidência. Para minha alegria, fui comunicada que deveria me apresentar à dra. Silvana Lauria, assessora do Presidente, que depois se tornou minha amiga, muito querida.

Lotada, então,  na Secretaria da Presidência, em 1981, participei da mudança do Tribunal da av. Rio Branco para a rua da Consolação. Lembro-me que havia muita notícia nos jornais da época criticando a instalação do Tribunal naquele edifício da r. da Consolação, por razões que eu desconhecia. Só me lembro que a mudança foi feita apressadamente para acomodar e organizar o funcionamento imediato de todos os setores na nova instalação do Tribunal, com a coordenação da competente e saudosa dona Isabel de Castro Mello.

Isabel de Castro Mello, TRT-2
A servidora Isabel de Castro Mello é capturada em imagem de agosto de 1983, em momento descontraído, no prédio do Ed. Sede do Tribunal, já na rua da Consolação. Foto: fundo Dayse Conrado Bacchi / acervo TRT-2.

Certo dia, estando o prédio ainda sem telefone, dra. Silvana Lauria me pediu para subir até a Copa, no 22º andar, para levar um recado do presidente ao juiz Francisco Garcia Monreal Júnior. Nesse dia tive uma surpresa maravilhosa! Ao chegar no andar, aproximavam-se do elevador, dois juízes. Eu me apresentei e perguntei pelo juiz Francisco Monreal, a quem  passei o recado. O outro juiz era o dr. Bento Pupo Pesce, com quem meu pai havia falado. Não pude conter a satisfação de conhecê-lo pessoalmente! Ele não me conhecia, mas dada a minha alegria e espontaneidade ao me apresentar, ele me pediu para ir, oportunamente, à Vice-Presidência. Ali, ele recordou a visita que meu pai fez e tirou de sua gaveta, onde guardava com carinho, a poesia “Natal do menino pobre” que havia recebido há dois anos.

Estando para ser criada a função de secretária de juiz, dr. Bento me convidou a exercê-la em seu gabinete, no momento oportuno, quando deixaria a Vice-Presidência e retornaria à 2ª Turma. Assim, passei a secretariá-lo em seu Gabinete na  2ª Turma do Tribunal, até a sua eleição para o  cargo de corregedor em 1984. Convidada a acompanhá-lo na Corregedoria, fui por ele nomeada para o cargo de Subsecretária e posteriormente, para o cargo de Secretária da Corregedoria, na vaga deixada pelo colega Mário Fernando Marques que foi transferido, a pedido, para a TRT da 15ª Região, então, recentemente, instalado em Campinas.  

Na Corregedoria, permaneci por oito anos contínuos, tendo me  aposentado, proporcionalmente ao tempo de serviço, em setembro de 1992, na gestão do juiz Valentin Carrion como corregedor. Não fossem as normas referentes à aposentadoria estarem, na ocasião, em constante mudança, gerando muitas incertezas, eu continuaria nesse trabalho, que muito me realizou como servidora! Lembro com muita gratidão que o requerimento da minha aposentadoria foi preparado pela querida e saudosa colega Gercy Maria de Almeida.                

Maria do Carmo Sacramento de Castro, servidores do TRT-2, Corregedoria do TRT-2
Registro do dia 5 de novembro de 1992, que marca a aposentadoria da servidora Maria do Carmo Sacramento de Castro (no centro da imagem). Da direita para a esquerda: o servidor Wilson Vieira Ferreira Lopes (então sub secretário da Secretaria da Corregedoria Regional) e os juízes Valentin Carrion, Victorio Fasanelli, Otávio Pupo Nogueira Filho e Julio de Araújo Franco Filho. Foto: fundo Maria do Carmo Sacramento de Castro / acervo TRT-2.

Revendo toda minha trajetória funcional dentro da Justiça do Trabalho, sou muito grata ao dr. Floriano Correa Vaz da Silva, com quem aprendi muito na sala de audiências da 16ª JCJ, datilografando e ao mesmo tempo estudando suas sentenças ricamente detalhadas e fundamentadas e, também,  muito procuradas pelos alunos e estagiários de direito que ali compareciam e pediam cópias.

O desembargador aposentado Floriano Corrêa Vaz da Silva, em registro de 1998. Foto: acervo TRT-2.

De uma forma muito especial, sou imensamente grata  ao juiz Bento Pupo Pesce, com quem muito aprendi, que acreditou no meu interesse e no trabalho que pude desenvolver sob sua orientação, com muita honra e satisfação, em seu Gabinete na 2ª Turma e na Secretaria da Corregedoria Regional.

Igualmente, minha gratidão ao dr. Octavio Pupo Nogueira Filho, dr. Nicolau dos Santos Neto, dr. José Victório Fasanelli, dr. Júlio de Araújo Franco Filho, dr. José Henrique Marcondes Machado, dr. Valentin Carrion, sucessivos juízes-corregedores, aos quais tive a honra de auxiliar, como secretária da Corregedoria, ao lado do querido amigo Wilson Vieira Ferreira Lopes e demais inesquecíveis colegas, como Maria Luiza Chagas, com quem tenho amizade até hoje, Adilson Capalbo, Adilson Guilherme, Dirce Dutra, Danilo Pompeu, Annayde, Silvia Hidalgo. Ressalto também os colegas Antonio Fatia e Maria Cristina Fisch que prestaram concurso e integram hoje, para nosso orgulho, a magistratura da Justiça do Trabalho.

Maria do Carmo Sacramento de Castro, TRT-2, servidores do TRT-2
Da esquerda para a direita: o servidor Mário Fernando Marques, secretário da Corregedoria do TRT-2, o juiz Francisco Garcia Monreal Júnior, a servidora Maria do Carmo Sacramento de Castro e o juiz Otávio Pupo Nogueira Filho. Foto: fundo Maria do Carmo Sacramento de Castro / acervo TRT-2.
Maria do Carmo Sacramento de Castro, TRT-2, servidores do TRT-2, Corregedoria do TRT-2
Da esquerda para a direita: o servidor Wilson Vieira Ferreira Lopes, a servidora Maria do Carmo Sacramento de Castro, o juiz José Victorio Fasanelli, o servidor Danilo Pompeu; à frente, as servidoras Ivani e Márcia (que atuava, à época como secretária do juiz Valentin Carrion) e Adilson Capalbo. Foto: fundo Maria do Carmo Sacramento de Castro / acervo TRT-2.

A todos os corregedores e vice-corregedores, com os quais pude contribuir com meu singelo, mas dedicado, trabalho durante o período de 1984 a 1992, minha homenagem e meu muitíssimo obrigado!

Sou grata ao Serviço Médico do TRT-2, que me possibilitou conhecer a médica dra. Rosa Ferreira, cujos cuidados médicos muito me ajudaram em certa ocasião. Grata também à diretora Corina Maria Leite, grande amiga hoje, pessoa maravilhosa, muito querida, que ao lado do trabalho desenvolvido, conseguia reunir colegas e magistrados, para promover integração e amizade, numa descontração agradável em pizzaria próxima ou restaurantes. Ao mesmo tempo, fazia trabalho social, atendendo diversos segmentos e ainda o faz, colaborando, com um grupo de pessoas amigas, com os menos necessitados, numa obra que hoje tem o nome de Grão de Areia.     

                              

Da Copa do TRT-2, guardo também com muita admiração e carinho, a então chefe, Maria de Lourdes de Almeida, pessoa simples,  maravilhosa e amiga até hoje, que também se empenhou, com a colaboração de colegas, a desenvolver a Fraternidade de Santo Agostinho, uma obra social, em Mogi das Cruzes, onde são atendidas hoje, muitas crianças carentes. São esses alguns dos fatos marcantes que trago no coração com muita gratidão à Justiça do Trabalho, onde conheci pessoas que enriqueceram minha vida com suas amizades, seus ensinamentos e exemplo e que têm toda minha admiração e carinho.

Quero, por fim, aqui deixar registrado e ressaltar a imensa felicidade  de ter ouvido, recentemente, nesta oportunidade dos 80 anos da Justiça do Trabalho, e falando ao telefone sobre episódios de sua vida como magistrado na Justiça do Trabalho, o meu sempre querido chefe, hoje amigo, dr. Júlio de Araújo Franco Filho! Neste março de 2021, ele está com 103 anos de idade, continua apreciando um bom vinho, uma boa gastronomia, notadamente a portuguesa, na companhia de amigos. Sempre muito alegre, com excelente bom humor, relembra de muitas passagens na magistratura, com muita clareza mental e impressionante memória! É uma pena que a pandemia do Coronavírus, em 2020, veio impedir as visitas e os encontros mensais com colegas e magistrados amigos, como vinham acontecendo.

Encontro de servidores e magistrados aposentados. Magistrados aposentados do TRT-2, Júlio de Araújo Franco Filho e Bento Pupo Pesce (da esquerda para a direita), com Maria do Carmo, em 2011. Foto: fundo Maria do Carmo Sacramento / acervo TRT-2.

Ao dr. Júlio de Araújo Franco Filho, minha especial homenagem, imensa gratidão por ter confiado no meu trabalho na Corregedoria e, notadamente, por esta ocasião festiva dos 80 anos da Justiça do Trabalho, onde V. Exa. deu sua valiosa contribuição na primeira instância, na Turma do TRT e encerrando sua brilhante carreira como corregedor da Justiça do Trabalho, em 1987! Que Deus o abençoe!

Encerrei minhas atividades funcionais em setembro de 1992, contando 14 anos na JT. Muitíssimo  satisfeita com a realidade que criei com meu esforço pessoal e apoio de minha família, principalmente do meu pai. Manifesto aqui minha eterna gratidão a Deus pela proteção durante todos esses anos. Portanto, integrando a Justiça do Trabalho como servidora, manifesto  meu orgulho de ter sido  parte dela  e poder dizer com todo respeito:  Parabéns à Justiça do Trabalho pelos seus 80 anos!

Vídeo publicado pelo TRT-2, dentro das comemorações aos 80 anos da Justiça do Trabalho.

Maria do Carmo Sacramento de Castro é servidora aposentada do TRT-2. Atuou no Regional de 1978 a 1992. Inicialmente lotada na 16ª Junta de Conciliação e Julgamento da Capital, trabalhou também no Setor de Cadastro, na Secretaria da Presidência e, posteriormente, na Corregedoria do Tribunal. Conheça um pouco do acervo fotográfico de Maria do Carmo.


Este texto foi publicado no contexto da campanha “80 anos em Memórias”, que integrou as atividades em comemoração aos 80 anos de instalação da Justiça do Trabalho da 2ª Região, realizadas pelo Centro de Memória do TRT-2 no ano de 2021. Mais contribuições de servidores, servidoras, magistrados e magistradas do TRT-2 (da ativa e aposentados) podem ser lidas aqui.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

Acesse também o Centro de Memória Virtual e conheça nosso acervo histórico, disponível para consulta e pesquisa.


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Publicado por memoriatrt2

Aqui neste perfil, você encontra os textos produzidos por colegas que contribuem para a produção de conteúdo dentro do Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor que surgiu no segundo semestre de 2017, com o objetivo de pesquisar e divulgar a memória institucional do TRT-2.

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