DRA. BETE
Um dia como qualquer outro, entre uma certidão e outra e o preparo das diligências,
o telefone toca, era Christiane, do Centro de Memória do TRT-2
E a minha memória voou para longe, alcançou Dra. Bete
É como se a visse em minha frente, tão compenetrada e exigente na análise dos “seus meninos”, como às vezes chamava os processos.
Até posso escutar a sua voz meio rouca
Ouvir o seu pigarro
Ver seu jeito de andar meio de lado
Dra. Bete era loira, magra e pequena
Seu modo de se vestir era clássico
Seus tailleurs eram impecáveis
Dra. Bete era uma professora nata
Seus olhos brilhavam quando quer que encontrasse um aprendiz inteligente, curioso e estudioso
Dra. Bete se empolgava e dava longas aulas
De Juiz a Servidores, sempre havia alguém à sua espera para tirar alguma dúvida e ouvir seus conselhos na solução de intrincados litígios
Era Juíza e Professora por pura vocação
Amava a Justiça e não pendia para nenhum lado não
Era extremamente perspicaz na análise das provas
Sua mão poderia ser leve ou pesada a depender das circunstâncias dos fatos
Valorizava a sua equipe de trabalho, mas era muito exigente
Que ninguém viesse lhe fazer perguntas sem antes ter analisado direito os autos
Dra. Bete não tinha paciência com quem não estudava e não analisava tim por tim as provas dos autos
Dra. Bete tinha muito bom senso e forte compromisso com a Verdade e a Justiça
Era zelosa demais com a coisa pública, não admitia desperdícios nem abusos de qualquer sorte
Não usava o telefone do Gabinete para assuntos pessoais
Não usava carro oficial
Dirigia seu próprio carro e tinha seu motorista pessoal, pago do seu bolso para carregar seus processos.
Dra. Bete era generosa e jamais se deixava afetar pela sua condição de elevada autoridade do Tribunal
Dra. Bete encerrou muito cedo sua viagem aqui por essas paragens!
Em pleno voo, foi arrebatada pelas forças invisíveis que conduzem os destinos de todos nós, pobres mortais que já nascemos cumprindo uma sentença de morte!
Mas Dra. Bete não viveu em vão
Por onde passou, deixou suas pegadas
Quem quer que tenha convivido com Dra. Bete jamais pôde esquecê-la
E hoje eu vejo seu retrato no espelho da memória e entre álbuns guardados nos armários de casa
Em mais de seis anos de intensa convivência jamais pude olvidar-me de seu jeito ao mesmo tempo bravo, exigente, generoso e doce.
Dra. Bete era de essência amável e as exigências eram reflexos do enorme peso que carregava nas costas, do medo de não conseguir ser justa.
Dra. Bete, receba essa singela e sincera homenagem
Lavrada nos autos da minha memória afetiva!
Dra. Bete, siga sua jornada em Paz!

Maria da Paz Farias Paiva é servidora do TRT-2 desde 1992. Foi chefe de gabinete da desembargadora Maria Elisabeth Pinto Ferraz Luz Fasanelli de meados de 2001 até o fim de 2007. Atualmente, é oficiala de justiça, lotada na Central de Mandados de São Paulo.

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