No dia 2 de abril de 1970, o presidente do TRT-2, Homero Diniz Gonçalves, assinava a escritura de compra e venda de um edifício que marcaria a história de nosso Regional.
Localizado à avenida Ipiranga, no número 1225, o novo prédio do Tribunal fechava um período de muita luta e insistência por parte de nossos gestores.
Desde 1967, o TRT-2 buscava um espaço que pudesse comportar, com tranquilidade e adequadamente, as juntas de conciliação e julgamento de São Paulo, que, naquele momento, chegavam a 23.
A nada harmoniosa relação entre o Tribunal e os locadores de edifício do período resultavam em constantes reajustes de aluguéis e reiteradas ameaças de despejo. Por isso, há alguns anos o TRT-2 buscava a oportunidade de ter um edifício para chamar de seu.
A ideia inicial de manter, como foi durante décadas, todas as unidades (administrativas e judiciais) em um mesmo prédio começava a se perder.
Desde 1964, o TRT-2 já contava com dois edifícios locados no centro da cidade de São Paulo: o primeiro, na rua Rego Freitas, nº 527, que abrigava as 23 juntas de conciliação e julgamento de São Paulo. O segundo, na rua Brigadeiro Tobias, nº 722, onde se achavam a segunda instância e o Administrativo do Tribunal.


Reportagens da época mencionam um movimento diário de quase seis mil pessoas apenas no prédio da Rego Freitas (para efeitos de comparação, antes da pandemia, apenas o Fórum Ruy Barbosa, com suas 90 Varas do Trabalho, recebia diariamente 25 mil pessoas).
O aumento da demanda de processos, da quantidade de juntas de conciliação e julgamento, e, por consequência, de pessoal, fazia com que um único edifício não mais comportasse o Tribunal, que começava a se agigantar.
Manter o TRT-2 centralizado importaria em ter um edifício muito grande, com vasta estrutura física, muitos elevadores, corredores largos, além de um espaço bem ventilado e iluminado. Essas eram as soluções que buscavam nossos gestores da época na busca por um novo prédio. E não era fácil encontrá-lo. Sobretudo com a verba que, de forma bastante comemorada, foi disponibilizada pelo governo federal, em 1969.
“Felizmente, a persistência produziu seus frutos”
Relatório Anual de Atividades do TRT-2 de 1969.
E foi assim que se chegou ao ponto da aquisição de dois edifícios, no começo do ano de 1970: o primeiro, da av. Rio Branco, onde funcionaria a segunda instância e toda a parte administrativa do Tribunal: a nova sede do TRT-2. E o segundo, na Ipiranga, onde funcionariam as juntas de conciliação e julgamento.
O prédio da av. Ipiranga contava com área de 6.568m², onde era possível encontrar “loja, 14 andares, servidos por três elevadores de alta velocidade e acabamento de boa qualidade”. Custou Cr$ 6,568 milhões, em dinheiro da época.
Ambos os prédios passariam por reformas para adaptações. Mas apenas o edifício da av. Rio Branco seria inaugurado no mesmo ano, no dia 18 de dezembro, em sessão solene, que contaria com a presença das mais importantes autoridades do país. E relatada em detalhes no Relatório Anual de Atividades de 1970.

“Pela profundidade de seus efeitos, alguns dos acontecimentos que se sucederam na Justiça do Trabalho da 2ª Região, em 1970, revestiram-se da mais transcendental importância e magnitude. São lídimos exemplos dessa afirmação, a compra dos dois imóveis destinados a receberem a sede deste Tribunal e as Juntas de Conciliação e Julgamento da Capital – fatos esses que, pela repercussão e alcance prático, pontificam historicamente entre os mais significativos de toda a existência da Justiça do Trabalho desta Região.”
Relatório de Atividades do TRT-2 de 1970, fls. 18. Fonte: acervo TRT-2.
No ano seguinte, não haveria qualquer menção direta, no Relatório Anual de Atividades, à inauguração do prédio da av. Ipiranga. Há, no entanto, a informação de que o prédio que abriga as juntas de conciliação e julgamento de São Paulo recebeu o nome do presidente do Tribunal Superior do Trabalho à época, Thelio da Costa Monteiro. Thelio havia atuado no TRT-2 como magistrado de primeiro e segundo graus. Foi ainda presidente do Regional, entre os anos de 1953 e 1954, quando foi nomeado ministro do TST. O descerramento da placa contou com a participação do homenageado.
Registros de 1971, doados pela servidora Maria Luísa Araújo, mostram a equipe da Distribuição (na qual seu pai, João Baptista de Araújo, atuou durante muitos anos) em frente ao prédio. É possível, inclusive, ver, na primeira imagem, um papelão afixado à grade do portão, escrito a mão: “Avenida Ipiranga, nº 1225”.


Apesar do novo prédio, maior e mais moderno, a luta do TRT-2 por espaço não acabaria. Em 1972, o relatório já menciona a incapacidade física do prédio que abrigava as juntas de conciliação e julgamento de São Paulo de comportar as nove novas unidades criadas pela Lei 5643/1970. E a intenção de “obter um imóvel capaz de recebê-las condignamente”.

Diante da necessidade de instalação das juntas, tão necessárias para uma melhor prestação jurisdicional, o Tribunal obteve a cessão provisória de um edifício na av. Cásper Líbero, nº 595, pertencente ao Banco Central do Brasil, em 1972. O prédio teve sua reforma iniciada no mesmo ano. Não há, no entanto, qualquer menção a ele no relatório de 1973.
Já no relatório de 1974, o presidente do Tribunal, Homero Diniz Gonçalves, menciona a reforma de outro prédio na av. Cásper Líbero, o do número 88, que seria inaugurado no dia 30 de agosto de 1974, data em que as juntas de conciliação e julgamento criadas em 1970 (da 24ª à 32ª JCJ-SP) seriam também instaladas. Pela primeira vez, as juntas de conciliação e julgamento de São Paulo estariam em dois edifícios.

São muitas as memórias e lembranças guardadas, por servidores e magistrados, dentro do prédio da Ipiranga, como é o caso da servidora Scheilla Regina Brevidelli, que trabalhou durante 13 anos em uma junta naquele imóvel, e relembra, com carinho, os tempos por ali vividos.

Ela lembra do espaço com detalhes: como o fato de haver apenas dois elevadores (ambos com ascensoristas); banheiros públicos e bebedouros em andares específicos (o 14º, como menciona reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, de 1976), já reclamando das péssimas condições do edifício; a existência de um refeitório no sétimo andar e de cada junta ficar em um andar específico (algo que aconteceu após a locação de outros edifícios pelo TRT-2 também no centro da cidade).

O prédio da avenida Ipiranga seria usado durante muitos anos. Ao longo do tempo, além de pequeno, o espaço acabou por ficar inadequado. Em 19 de outubro de 1999, o prédio foi interditado e, após uma grande reforma que durou cerca de seis meses, foi reaberto para uso. Seria utilizado até o ano de 2004, quando todas as Varas do Trabalho de São Paulo foram transferidas para o recém-inaugurado Fórum Ruy Barbosa.


Reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, de 3 de abril de 1976, destaca as condições precárias do edifício da av. Ipiranga, apenas cinco anos após sua inauguração. Fonte: acervo Estadão.
Devolvido ao Patrimônio da União, o Edifício Dandara ficaria abandonado durante 16 anos. Entre os anos de 2014 e 2016, passaria por uma grande reforma, sendo transformado em um edifício residencial, o primeiro reformado pelo programa “Minha Casa Minha Vida”, no centro da cidade de São Paulo.
O prédio passou a contar com 120 apartamentos, com áreas variando entre 25m² e 77m² (mesmo destino que teria o edifício da rua Rego Freitas). A reforma, inclusive, foi tema central do artigo “A produção do espaço nas centralidades urbanas: O caso do edifício Dandara”, apresentado na edição de 2019 da Enanpur – Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional.








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Que tempo bom era aquele! Muito aprendizado e muitas amizades valiosas que perduram até hoje! Iniciei na JT em 1982, trabalhando na 10. Vara…
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Oi, Marilene. É muito ver o quanto as pessoas guardam boas lembranças de tempos assim, ainda mais do ambiente de trabalho. Aproveito a oportunidade para convidá-la a participar do “Memórias Trabalhistas”, compartilhando você também as suas memórias. Pode ser de um fato específico, pode ser contando a sua trajetória no Tribunal… Será um prazer ouvir a sua história.
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