O ano de 1988 foi marcado por importantes acontecimentos em todo o globo. No mundo, o fim da guerra do Afeganistão começava a ser discutida; já Irã e Iraque cessavam outro conflito que acontecia (e que já durava oito anos); no Chile, o general Augusto Pinochet ouvia um estrondoso “não”, vindo das urnas, o que resultava, após 15 anos de ditadura, na convocação de eleições democráticas. Era um ano turbulento.
No Brasil, o mais relevante dos fatos que marcaram 1988 foi a promulgação de nossa Constituição Federal. A nova Carta Magna trazia em si a esperança de um recomeço: mais democrático, mais inclusivo (ainda que inclusão não fosse uma palavra em voga e não representasse o que hoje traz de significado), mais justo. “Escrito por 559 autores escolhidos pelo povo, representando as mais diversas ideias, interesses e expectativas”, e unificadas pelo presidente da Constituinte, o deputado Ulisses Guimarães, a Constituição Federal de 1988 é “o texto-guia para uma vida mais digna”, como definiu o jornalista Sérgio Chapelin, na época. A Lei Maior de nosso país mudou ainda a vida do trabalhador, que passou a ter jornada de 44 horas semanais, férias com adicional de um terço e hora extra, com 50%. De fato, foi um ano de grandes acontecimentos.

No TRT-2, 1988 foi marcado por uma nova eleição de corpo diretivo. Nosso novo presidente era uma pessoa extremamente inteligente e bem articulada. Oitavo filho de uma família de 11 irmãos, foi, desde cedo, um jovem estudioso, com interesses dos mais diversos. Poliglota, piloto de avião e aspirante a diplomata, Helder Almeida de Carvalho foi o décimo oitavo presidente do TRT-2. O último dos anos 1980, o primeiro desse processo de pós-redemocratização.
A vida em São João da Boa Vista
Helder Almeida de Carvalho nasceu no dia 9 de junho de 1927, na cidade de São João da Boa Vista, no interior do estado de São Paulo. Filho de Antônio José de Carvalho e Rosaura de Almeida Carvalho, Helder foi o oitavo filho de uma família de 11 irmãos. Além dele, havia José, Zilda, Dilza, Adazir, Manoel, Antônio, Artur, Flavia, Eurico e Eni. Eni, por sinal, é a única viva até hoje. Tem 93 anos.

O pai de Helder, Antônio José, tinha uma serraria na cidade, o que garantiu uma vida sem grandes luxos, mas tranquila, financeiramente. “Vovô Carvalho”, como carinhosamente lembra José Pedro Bulcão Carvalho, servidor do TRT-2 desde 1987, e filho mais velho de Helder. Antônio José era português da cidade de Chaves, na província de Trás-os-Montes, e havia chegado ao Brasil no fim da adolescência, junto com seus irmãos.
Trabalhou durante alguns anos como representante comercial de uma fábrica de tecidos. Viajava muito pelo estado de São Paulo. E foi em uma dessas viagens, com parada em São João da Boa Vista, que conheceu Rosaura – a mulher que seria sua esposa e mãe de seus 11 filhos.

Rosaura era filha de um dono de serraria, a Piffer & Almeida. Seu pai, o capitão José Alexandre (que hoje em dia dá nome a uma rua da cidade), era muito bem de vida. Foi graças a ele que Antônio José conseguiu parar de viajar e finalmente se estabelecer em São João da Boa Vista. Isso porque, uma vez casados, Antônio José, o pai de Helder, viraria sócio do capitão José Alexandre, pai de Rosaura, mãe de Helder. Formariam a Serraria Almeida & Carvalho. E construiriam a vida em São João.
Antônio José valorizava a educação fundamental para que suas crianças pudessem ter chances de crescer na vida. Por isso, sempre incentivou os filhos a estudarem – ainda que precisassem ir para a Capital para que pudessem concluir os estudos. Todo o incentivo foi fundamental na vida das crianças. Quase todos os 11 filhos concluíram o ensino superior. Há advogados, dentista, sociólogo – fato que impressionaria, décadas depois, todos aqueles que ouviriam a história de Helder. Faleceu em 1965, anos depois de sua esposa, Rosaura.
A infância de Helder Almeida de Carvalho
Helder era um menino bastante genioso, como conta a irmã. Eni faz questão de mencionar, porém, que a mãe (Rosaura), que tinha verdadeira adoração pelo pequeno, fazia de tudo para acobertar e evitar que ele apanhasse (algo normal nas criações de antigamente).
Todos os filhos estudaram na cidade, na Escola Estadual Coronel Joaquim José, no centro de São João da Boa Vista. Fundada em 1896, sob o nome de Grupo Escolar Coronel Joaquim José, a escola ficou dois anos fechada, até que, em 1905, retomou suas atividades em novo prédio, onde se encontra até hoje. Em 2002, o edifício foi tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT). Atualmente, a escola oferece apenas os anos de ensino fundamental – algo que também acontecia naquela época (apesar das alterações da nomenclatura ao longo do tempo).

Finalizados os anos oferecidos pelo grupo escolar, Helder preparou-se para entrar no ginásio estadual. Até 1971, era obrigatório, para quem concluía o Ensino Primário (o atual Ensino Fundamental I), prestar uma espécie de vestibular, o Exame de Admissão, para começar o Ensino Ginasial (o atual Ensino Fundamental II). O exame era composto por uma prova de linguagem e exercícios de gramática, além de redação. Havia ainda provas de aritmética e conhecimentos gerais. Em uma época em que não existiam vagas para todas as crianças estudarem, era preciso selecionar os que estavam melhor preparados.
No colegial, transferiu-se para o Colégio Estadual da cidade. Podendo escolher entre o “normal” (que preparava os alunos para o ofício de professor) e o “clássico”, optou pelo segundo. Na nova escola, participou de um grêmio, que se chamava Augusto de Freitas. Helder era um jovem dinâmico, que gostava de falar com as pessoas, que se relacionava muito bem com todos.

Conta o filho mais velho, José Pedro Bulcão Carvalho, que o pai estava sempre reunindo as pessoas. Por isso mesmo, chegou a ser presidente da agremiação. Nesse período, foi secretário de redação do jornal semanal “Cererê”, fundado, anos antes por um de seus irmãos, Antônio, e pelo colega Francisco Paschoal. Helder já demonstrava toda a sua facilidade com as palavras. Além de seu talento para a escrita, o jovem era bom de negociação. Era ele quem arranjava, inclusive, “patrocínio para rodar o jornal”, como comenta José Pedro.


Helder gostava ainda de esportes. Jogava vôlei e basquete durante o colegial. Chegou a ser campeão estadual de vôlei nos jogos de 1943. Defendendo a equipe de São João, venceu a final contra Casa Branca (cidade onde nasceu sua avó materna). Na época, Casa Branca era a grande campeã do estado.





Uma vez finalizado o ginásio, era hora de escolher seu destino profissional. Helder prestou vestibular logo após terminar o colégio, e “sem fazer cursinho”, como frisou Eni. A irmã conta que, desde jovem, Helder já falava para a família sobre o desejo de fazer direito. Foi o que fez.

Um advogado na família
Helder Almeida de Carvalho foi admitido na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na que ficou conhecida como turma de 1951, a de número 120. Um de seus colegas foi o também juiz do TRT-2, Carlos Belfort.



Durante a faculdade, morou com os irmãos – que já tinham vindo antes para São Paulo para estudar. Alguns deles na própria Universidade de São Paulo (USP). É o caso de José, que fez odontologia (e chegaria a ser professor na mesma universidade).

Helder gostava muito de estudar. Segundo o filho, José Pedro, Helder desejou, em determinado momento da vida, seguir a carreira diplomática, mas, por algum motivo, não a perseguiu. Em São João da Boa Vista prestou o serviço militar obrigatório, fazendo o tiro de guerra em 1944 – onde também atuou na banda, tocando percussão. Quando chegou em São Paulo, fez CPOR (Centros de Preparação de Oficiais da Reserva), o que o tornou tenente do Exército da reserva.




Em São João da Boa Vista, Helder ainda conseguiu tempo para tirar um brevê, no Aeroclube da cidade. Foi o único dos 11 irmãos a efetuar a façanha. Voava aviões pequenos, mas isso não significava menos aventura. Chegou a levar a irmã, Eni, às alturas com o avião do Aeroclube. Nancy Annibal, (cujo avô era irmão de Rosaura, mãe de Helder), servidora aposentada do TRT-2, conta que o primo, alguns anos mais velho que ela, e que sempre passava férias na casa de seus pais, era danado quando jovem: “Ele fazia rasante na minha casa. Minha mãe ficava apavorada e já sabia quem era. Ela falava: ‘Olha, é o Helder!’, sem precisar olhar”, relembra Nancy.



Helder, porém, nunca levou os filhos para voar. Depois que terminou a faculdade, já em São Paulo, não mais pilotou.
Já advogado, uma carreira meteórica
Helder Almeida de Carvalho começou a trabalhar antes mesmo de sua formatura na faculdade, em 1951. Desde 1948, era escriturário do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. Ficaria até 1952, quando passou a atuar como inspetor no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, na capital paulista. Seria chefe da Seção de Recursos do Serviço de Fiscalização, secretário do delegado Regional do Trabalho e diretor do Serviço de Fiscalização. Ficaria no órgão até 1956. Apesar do pouco tempo dentro do Ministério do Trabalho (apenas quatro anos), Helder foi eleito presidente da Associação dos Inspetores. Demonstrava, mais uma vez, toda sua facilidade de convívio com as pessoas. “Ele conversava com todo mundo. Era muito dinâmico, muito inteligente, muito vivo – e estava sempre enfronhado” nos assuntos e acontecimentos, como conta José Pedro.

O universo do trabalho foi ficando cada vez mais conhecido por Helder. O TRT-2, que havia passado a integrar o Poder Judiciário apenas quatro anos antes, contava, em 1950, com 14 juntas de conciliação e julgamento, sendo sete na cidade de São Paulo e cinco no interior. A jurisdição do Regional abarcava, além de todo o estado de São Paulo, os estados do Mato Grosso (ainda unificado) e do Paraná, onde havia duas unidades jurisdicionais (uma em Curitiba e uma em Cuiabá).
Apesar de relativamente pequeno, o Regional mostrava ao governo a necessidade de crescer. E batalhava para que novas juntas de conciliação fossem instaladas. Para acompanhar tal crescimento, era necessário, também, o aumento da quantidade de juízes. Desde 1953, quando o TRT-2 realizou o I Concurso da Magistratura de sua história (e também da história da Justiça do Trabalho), o Tribunal foi, cada vez mais, crescendo. Em 1955, o Regional realizou o segundo certame de sua história. E Helder Almeida de Carvalho concorreu. Ficaria na 17ª colocação.


São desse mesmo concurso cinco dos futuros presidentes do TRT-2: Antônio Lamarca, Roberto Mário Rodrigues Martins, Rubens Ferrari (seu antecessor na Presidência), Nelson Virgílio do Nascimento (que não chegou a assumir, mas entrou, anos depois, pelo Quinto Constitucional), além dele próprio. O certame rendeu ainda vários nomes que fizeram parte do corpo diretivo do Tribunal, como Bento Pupo Pesce, Octavio Pupo Nogueira Filho, Júlio de Araújo Franco Filho e José Victorio Fasanelli. Além de um presidente de Regional surgido a partir da subdivisão de nossa jurisdição: Francisco Garcia Monreal Junior (primeiro presidente do TRT-15). Por fim, e não menos importante, a primeira magistrada do TRT-2 e de toda a Justiça do Trabalho: Neusenice de Azevedo Barretto Küstner.









Helder seria nomeado juiz substituto do TRT-2 no dia 21 de novembro de 1956. Tomaria posse e entraria em exercício poucos dias depois, em 29 de novembro do mesmo ano. Seria juiz substituto em diversas unidades até que, em 3 de outubro de 1962, quase seis anos após sua nomeação, seria promovido juiz-presidente da Junta de Conciliação e Julgamento de Santo André, por antiguidade. Tomaria posse seis dias depois.


Na mesma época, para ser mais precisa, um dia após a nomeação de Helder como juiz-presidente de junta, outro importante evento aconteceria em sua vida: a criação da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 2ª Região, a primeira entidade de classe de toda a JT – e que serviria “de modelo e referência para as associações congêneres”, como mencionou o professor Dante Gallian, autor do livro sobre os 50 anos da instituição, lançado em 2012. Helder foi um de seus fundadores. E terceiro presidente da instituição, na difícil década de 1960. Por sinal, era ele o presidente da Amatra-2 quando aconteceu o golpe de 1964. Ficaria na Presidência da Amatra-2 entre fevereiro e novembro de 1964, sendo seguido pelo juiz Hélio de Miranda Guimarães (que já era presidente do TRT-2 e ficaria apenas um ano, até 1965).


Helder não ficaria por muito tempo à frente da JCJ de Santo André, no entanto. A distância entre sua casa, no bairro do Brooklin, em São Paulo (local onde residiu durante quase todos os anos em que viveu na cidade), e a unidade em Santo André faria com que pedisse remoção para São Paulo. Em 14 de junho de 1965, Helder assumiria a presidência da 11ª JCJ da Capital. São dessa época, por sinal, as primeiras lembranças que José Pedro tem do TRT-2. Ainda no prédio da rua Rego Freitas, no centro da capital paulista. Helder seria diretor substituto do prédio (o titular era o também juiz, Rubens Ferrari).


José Pedro era criança quando viu o TRT-2 por dentro pela primeira vez. Lembra-se vagamente dessa época. Mas se recorda bem da rua… No fim dos anos 1960, começo dos anos 1970, já fazia faculdade na Universidade Presbiteriana Mackenzie (arquitetura), quando começou a frequentar o cineclube do Sindicato dos Jornalistas, que ficava ali bem próximo. Mais uma vez o TRT-2 estava presente em sua vida.
No dia a dia de sua atividade judicante, Helder era um juiz extremamente dedicado. A servidora aposentada Elza Maria Rios de Faria, que atuou no TRT-2 entre 1964 e 1990, foi datilógrafa de audiência do magistrado na primeira instância (tanto na 11ª JCJ quanto na futura lotação, na 27ª JCJ). Elza Maria se recorda com muito carinho de Helder Almeida de Carvalho. “Ele era um excelente juiz. Muito inteligente, muito entregue ao trabalho e estava sempre pronto a ensinar. Eu aprendi muito com ele”, completa a servidora, que chegou a cursar a faculdade de direito (no Largo de São Francisco) muito incentivada pelo magistrado.

Helder era um juiz direto. “Ele deixava que as partes chegassem a um acordo, se fosse possível, conduzia tudo de forma muita tranquila”, como lembra Elza Maria. Segundo a servidora, era tão fácil trabalhar com o magistrado e a sintonia era tão grande que ela conseguia antecipar as ações de Helder: “Eu sabia exatamente o momento em que ele ia julgar o processo e dar a sentença: ele puxava o processo, acendia o cigarro e eu já sabia que era hora de ajeitar o papel para começar a datilografar a sentença”.
As sentenças, por sinal, eram simples e precisas. “Não eram rebuscadas, mas eram impecáveis”, conta Elza. A servidora aposentada lembra que o magistrado estava sempre disposto a ensinar o que fosse preciso. A esclarecer o que fosse necessário. Para qualquer um. “Ele fazia o que fosse preciso para auxiliar os funcionários”, relembra Elza.
Não era apenas Elza Maria que se sentia à vontade para trabalhar com o juiz Helder Almeida de Carvalho. O magistrado tinha uma ótima relação com todos: fossem partes, advogados e, principalmente, os servidores das unidades em que atuava. “Ele era muito querido. Saía com a gente e com os juízes para tomar um chopp”, lembra Elza Maria.

Ocasionalmente, a equipe da Junta era convidada para jantares na casa dos Almeida de Carvalho. Foi em uma dessas oportunidades que Elza Maria aprendeu uma receita de coquetel de camarão com Ruth Bulcão Carvalho, esposa de Helder. A servidora conta com orgulho que, até hoje, é uma de suas especialidades.
Elza Maria recorda que o magistrado tinha uma excelente relação com a família: “Ele sempre muito delicado com a família e querido pelos filhos e pela esposa. Quando o Flavinho ligava (o filho mais novo, Flávio Bulcão Carvalho), ele sempre atendia, entre uma audiência e outra, conversava e sorria”, relembra a servidora.
Helder Almeida de Carvalho já estava há quase dez anos na 11ª Junta, quando, em agosto de 1974, pediu, mais uma vez, remoção. Seu destino seria a recém-instalada 27ª JCJ de São Paulo, da qual seria o primeiro presidente. A unidade havia sido criada quatro anos antes, em 1970, pela Lei 5.643, mas instalada apenas em 30 de agosto de 1974. O normativo previu a criação de 12 novas juntas de conciliação e julgamento na 2ª Região: nove na cidade de São Paulo, uma em Osasco, uma em Santos (a 3ª da localidade) e uma na cidade de Curitiba (também a 3ª).

Naquela época, Helder já começava a substituir no TRT-2. Na verdade, sua primeira convocação aconteceu em 1973, algo destacado no Relatório Anual de Atividades daquele ano. Em 1974, ao lado de um grupo de magistrados do TRT-2, compareceu ao V Congreso Iberoamericano de Derecho del Trabajo y de Seguridad Social, realizado na Cidade do México. Em 1976, ano que seria marcado pela primeira divisão de jurisdição do TRT-2, com a instalação do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, com sede em Curitiba, consta em sua pasta funcional um voto de louvor pelos serviços por ele prestados.
É hora de crescer
No fim da década de 1970, uma nova legislação alterou profundamente a segunda instância do TRT-2. A Lei 6.635, de 2 de maio de 1979, ampliou o número de juízes de tribunal de 17 para 27, e as turmas, de três para cinco. O normativo criava 10 novas vagas. Delas, quatro seriam destinadas a classistas e seis para juízes togados (sendo quatro para juízes de carreira, uma para advogados e uma para membros do Ministério Público). Era uma oportunidade para Helder crescer em sua carreira. E foi nesse contexto que o magistrado peticionou candidatando-se a uma das vagas (pág. 77). Mas ainda não seria o momento. Os escolhidos foram: Rubens Ferrari, Octavio Pupo Nogueira Filho, Francisco Garcia Monreal Júnior e Júlio de Araújo Franco Filho. Todos oriundos do II Concurso da Magistratura. Já para as vagas destinadas ao Quinto Constitucional, foram nomeados Délcio Trevisan (OAB) e Vinícius Ferraz Torres (MP).



Sua vez, no entanto, já estava chegando. Em 28 de janeiro de 1980, Helder Almeida de Carvalho seria promovido, por merecimento, ao cargo de juiz togado de tribunal, em vaga decorrente da aposentadoria do juiz Raul Duarte de Azevedo. A posse aconteceria poucos dias depois, em 5 de fevereiro. Passaria a integrar a 2ª Turma.
José Pedro recorda-se bem desse momento. Conta o servidor que estava em viagem, no Espírito Santo, com alguns amigos, quando resolveu telefonar para casa. Estava no hotel quando descobriu que o pai havia sido promovido. José Pedro já estava na faculdade nessa época, estudava arquitetura no Mackenzie, bem ali ao lado do prédio do que seria a futura sede do TRT-2, na rua da Consolação. Era ainda os últimos meses do Regional na av. Rio Branco. “Lembro que foi uma alegria”, comenta José Pedro, que se recorda com muito carinho da situação. O servidor do TRT-2 conta que o pai estava apreensivo. Até porque tinha “concorrentes” muito bons, como o juiz Amauri Mascaro Nascimento (que seria promovido em 1983, e se aposentaria logo na sequência). Não foi uma completa surpresa para a família, porém. Sabiam todos o quanto ele era competente e preparado para a função. Faltava apenas a oportunidade. E ela havia chegado.
Companhia para toda a vida
Helder Almeida de Carvalho era jovem quando conheceu quem seria a mãe de seus três filhos. Ruth Bulcão nasceu em 11 de setembro de 1929, também em São João da Boa Vista. Seus pais eram de cidades distintas do interior paulista: o pai, o músico Izauro Bulcão, era de São José do Rio Pardo. Já a mãe, a professora Alice do Nascimento Barretto, de Casa Branca. E seguiram para São João. Filha única, Ruth frequentou o mesmo grupo escolar que Helder, mas na turma de Eni, uma das irmãs de seu futuro marido. Eram bastante amigas.

Ruth e Helder casaram-se em 3 de dezembro de 1957. Helder já era juiz do TRT-2 nessa época. A parte do civil foi feita na cidade de São Paulo. O religioso, na Catedral de Aparecida do Norte. Foi morando em São Paulo, mais precisamente na rua Avanhandava, que começaram a construir sua família. Em São Paulo nasceram seus três filhos: José Pedro (em 1959 – e servidor do TRT-2 desde 1987), Luís Augusto (em 1961 – e servidor do TRT-2 desde 1992) e Flávio (em 1963 – servidor do TRT-2 entre 1989 e 2016).
Ruth, assim como sua mãe, Alice, era professora primária, profissão que exerceu por 36 anos. Concursada estadual desde 1953, Ruth atuou em diversos colégios. Durante muitos anos, trabalhou no Grupo Escolar Cesar Martinez. Por isso mesmo, tinha importante participação na formação dos filhos. “Como minha mãe era professora, ela nos ajudava muito. Já meu pai acompanhava tudo e fazia parte da associação de pais e mestres”, relembra José Pedro.

O filho mais velho de Helder lembra que havia um respeito muito grande dos filhos em relação ao pai: sabiam que existia hora para tudo. Mas, principalmente, que havia limites intransponíveis – em especial quando o assunto era o trabalho do pai: “Em casa, não se falava sobre processos. A gente só via pilhas de processos. Ele empacotava tudo e ficava sempre amarrado com um papel escondendo a capa. A gente não sabia como eram as decisões”, relembra José Pedro.
O cuidado do pai era redobrado, em especial devido ao momento que o país vivia. Em plena década de 1960, o Poder Judiciário não era um dos temas mais discutidos – ou mesmo conhecidos – pelas pessoas, de uma forma geral: “Na escola, não se falava muito sobre direito. Não se sabia o que era um juiz. Eu falava que meu pai era juiz, o pessoal achava que era juiz de futebol”, lembra José Pedro, entre risos.
E se havia toda uma seriedade quando o assunto era a atividade profissional do pai, a relação era muito diferente no dia a dia familiar: “Meu pai contava piadas, brincava, era alegre”. José Pedro comenta ainda que o pai gostava muito de dar jantares. E a mãe, Ruth, era uma cozinheira de mão cheia.
Conta José Pedro que a mãe era especialista em pratos portugueses, que eram profundamente admirados pelo avô, o vovô Carvalho, pai de Helder. “Meu avô era português e superexigente. Mas gostava muito dos pratos que a minha mãe fazia, principalmente do arroz de polvo”. Ruth cozinhava para a família e para os amigos. O que rendia a ajuda de Helder em casa em certas ocasiões: “Ele ajudava em casa a lavar a louça, no fim de semana. Fazia canapés para a família…”.

A casa dos Carvalho reunia pessoas dos mais diferentes cantos: além da família, muitos amigos: alguns juízes, alguns médicos. Muitos vinham de São João da Boa Vista, como o médico Joamel Bruno de Mello (e a esposa, Ana Maria), o delegado Carlos de Barros Monteiro Júnior (cuja esposa, Maria José, era muito amiga de Ruth), o também o médico Geraldo Perez Ferreira (e a esposa, Adelaide, que eram padrinhos de casamento do casal), João Branco (e a esposa, Neda) e Décio Noronha (e a esposa Marília).
No TRT-2, Helder teve alguns grandes amigos. Wagner Drdla Giglio foi um deles. O magistrado, que entrou no TRT-2 em 1957 (oriundo também do II Concurso da Magistratura, no qual tinha alcançado a 18ª colocação, uma depois de Helder), acabou por se transferir para o TRT-9, quando de sua instalação, em 1976. Era presidente da 14ª JCJ de São Paulo na época e tornou-se juiz de tribunal por lá (o atual cargo de desembargador). Antes, porém, as duas famílias viajavam muito. Em especial à cidade de Ubatuba, quando tinham filhos ainda pequenos. Outros amigos dos quais José Pedro se recorda foram os também magistrados Octavio Pupo Nogueira Filho, Aluysio Mendonça Sampaio, Sid Sitrângulo, José Luís Vasconcellos, Vantuil Abdala e Roberto Gouvêa (que depois iria para a 15ª Região). O desembargador do TRT-7, João Nazareth Pereira Cardoso, foi outro. Aproximaram-se durante a presidência de Helder e mais ainda, após a aposentadoria do magistrado.





José Pedro conta que o pai era muito rápido, dinâmico, inteligente, preparado, lia e estudava muito. “Em jantares, ele fazia jogos para saber o significado de palavras, origem de radicais. Gostava muito de geografia”. À sua maneira, acabava sendo professor dentro e fora de casa: “Ele era professor e odiava erros de português, era bastante rigoroso com a língua portuguesa” – e não só de seus alunos. Era também uma forma de incentivar os filhos à busca pelo conhecimento. Algo bastante parecido com o que contaram os filhos de outro presidente do TRT-2, Nelson Ferreira de Souza.
Sendo filhos de pais professores, é fácil imaginar que os três Bulcão Carvalho fossem para a universidade – e, quem sabe, para a área de Humanas: advogados, talvez? Não foi isso o que o destino quis. Ao menos não inicialmente: José Pedro formou-se arquiteto. Luís Augusto e Flávio, educadores físicos. Anos depois, os dois filhos mais novos optariam pelo direito como segunda graduação. Apenas o mais velho, José Pedro, não se formou advogado. Talvez o único que Helder tivesse real expectativa.

Mas a vontade de ver os jovens na escola, estudando, aprendendo, progredindo, não era apenas voltada para seus filhos. Era também em relação aos sobrinhos. E havia até estratégia.
José Pedro conta que a família se reunia todos os anos no Natal, na casa dos avós, em São João da Boa Vista. Em volta de uma gigantesca mesa (produzida na serraria da família), ficavam os avós, os 11 filhos e as respectivas esposas e, ao lado, as crianças. Quase 20 no total. O Natal era uma festa sagrada para a família, incentivados principalmente por Ruth, esposa de Helder, e Eni, a irmã do magistrado (ambas bastante religiosas). Todos se reuniam, iam à Missa do Galo, faziam orações, cantavam “Noite Feliz” e até uma pequena procissão era feita dentro de casa, com um presépio montado pela própria família. Era nessa época também que Helder colocava em prática uma tradição criada por ele próprio: todos os anos em que um sobrinho se formava no ginásio, ele era presentado com uma caneta-tinteiro (um símbolo de ostentação na época). Era a forma que ele tinha para incentivar as crianças a continuar no estudo.
Os encontros anuais se mantiveram mesmo após o falecimento dos avós. Dentro das possibilidades de participação de cada um dos irmãos.




Uma vida na segunda instância
A década de 1980 foi bastante agitada no cenário nacional. Enquanto, no país, vivíamos um delicado e importante momento de redemocratização; no TRT-2, greves que se propagavam pela capital e pelo interior do estado de São Paulo, consequência exatamente do momento nacional que vivíamos, tinham que ser julgadas a todo instante.
Em 1986, Helder Almeida de Carvalho foi eleito vice-presidente do TRT-2, na gestão de Rubens Ferrari. Nessa época, esteve à frente da negociação de algumas greves, atribuição que era do vice-presidente do Tribunal, quando ainda não havia divisão entre administrativo e judicial (como nos dias de hoje). Conhecido por ser mais tranquilo e reservado, Helder se adaptou muito bem à função. Conta Roseli Alba Godoy, servidora do TRT-2 entre 1984 e 2013, que, ainda que os ânimos estivessem mais exaltados, Helder conseguia manter a serenidade: “Mesmo quando presidia sessões de greve, era extremamente tranquilo. Ele não era autoritário, não se fazia impor. Era um ser jurídico”.

Helder gostava de ser juiz. Era um magistrado extremamente detalhista em seus votos. “As decisões e os votos feitos por ele eram bastante longos: bem explicados, bem embasados”, lembra Roseli. Contam que era muito difícil a proposição de embargos de declaração diante de suas decisões. A equipe sabia que “quando entravam com embargos era porque queriam alguma coisa”. Ganhar tempo, por exemplo. Falam que escrevia muito bem. Era muito culto. Muito estudioso. Alguém vocacionado.

Naquele momento dos anos 1980, não havia tantos servidores na Vice-Presidência. Roseli Alba Godoy, José Euclides Basili, Katia Farias dos Santos e Nancy Annibal eram alguns deles.
Servidora do TRT-2 entre 1979 e 1988, Nancy Annibal atuou com o juiz Helder Almeida de Carvalho durante quase toda a década de 1980. Era servidora da primeira instância, do gabinete da então juíza Dora Vaz Treviño, quando foi criado o cargo de secretária de gabinete, quase na metade dos anos 1980. Diante da situação, foi chamada para atuar ao lado de Helder, a pessoa que a havia incentivado, anos antes, a prestar o concurso do TRT-2. O magistrado era seu primo de terceiro grau.
Nancy é neta do irmão da mãe de Helder. Apesar do parentesco, Helder sempre fez questão de manter um certo distanciamento dentro do ambiente de trabalho. Não dava moleza. Não queria que achassem que Nancy tinha qualquer tipo de privilégio por ser da família. Na verdade, seria melhor se não soubessem que eram parentes: o sobrenome já era diferente.
Nancy conta que sua rotina era bastante rígida. Todos os dias, recebia uma ligação de Helder, precisamente às 11h. O magistrado, então vice-presidente do TRT-2, queria saber se estava tudo certo por ali, se todos haviam chegado.

E se havia essa forte preocupação em relação à proximidade de ambos, era exatamente devido a essa proximidade que Nancy também acabava por ser a pessoa a quem ele recorria em momentos mais delicados, por assim dizer: “Quando ele queria descobrir alguma coisa, ele falava: ‘Nancy, vai lá assuntar’. Eu entrava no elevador, falava com o ascensorista”. Helder costumava dizer que não havia lugar melhor para descobrir se algo estava acontecendo: se não fosse no elevador, seria na garagem.
Ao longo dos anos, porém, uma mudança no quadro de servidores do gabinete se não acelerou, ao menos influenciou a decisão de Nancy de se aposentar. Ela, que já havia trabalhado por 17 anos na Secretaria da Fazenda, e tinha um filho ainda criança, decidiu que era hora de mudar: “Eu me aposentei em outubro e em novembro me mudei para Rio Claro. Não conhecia ninguém”. Quase 35 anos depois, não consegue se enxergar em outro lugar.
Pouco tempo após a aposentadoria de Nancy, Helder seria eleito presidente do TRT-2. E teria que formar seu novo gabinete. Levaria algumas pessoas que já o acompanhavam. Nancy não mais faria parte.
O novo presidente do TRT-2
Em 1988, Helder Almeida de Carvalho concorreu à Presidência do TRT-2. E foi eleito. Seu vice foi Vinícius Ferraz Torres. Nomeado pelo Quinto Constitucional (OAB), em 1980, Vinícius Ferraz Torres havia sido delegado Regional do Trabalho durante alguns anos no estado de São Paulo. Ele havia ficado no lugar de Aluysio Simões de Campos, nomeado juiz de tribunal no TRT-2, em 1978. Apesar do contexto da ditadura militar, foram, no limite do possível, bastante distintos em suas atuações. Para os cargos de corregedor e vice-corregedor foram eleitos Nicolau dos Santos Neto e José Victorio Fasanelli, respectivamente. Tomaram posse em 15 de setembro de 1988.


Apesar de alguns dizerem que Helder não era uma pessoa muito gananciosa no sentido de buscar o poder (ou cargos diretivos), o magistrado era uma pessoa política. E talvez a política acabasse por atrai-lo para ocupar determinados espaços. “Ele era extremamente político. Ele fazia parte de diversas coisas: conselho de clube esportivo, associação de pais e mestres da escola dos filhos. Sempre fez parte de tudo”, comenta José Pedro. Quando exerceu seu primeiro cargo diretivo, de vice-presidente, Helder estava há apenas seis anos na segunda instância do TRT-2. Dois anos depois, alcançava o posto máximo do Regional e de sua carreira. Era como se Helder fosse um sucessor natural daquele posto, como se as circunstâncias o tivessem levado àquele momento. E ele aceitou o desafio. Contam servidores, que com ele atuaram, que Helder era uma pessoa simples. Talvez não almejasse o posto, ou, assim como em sua vida pessoal, não fizesse alarde. Mas estava preparado.

Em 1988, o TRT-2 contava com 85 juntas de conciliação e julgamento, sendo 53 na capital (que receberiam, naquele ano, 129.732 novos processos) e 32 no interior (que receberiam 60.049 novas reclamações). Ao todo, receberam 189.781 novas ações naquele ano.
Eram ainda 44 juízes de tribunal, sendo 28 togados e 16 classistas. Esses estavam divididos em oito Turmas e quatro grupos de Turmas. Havia ainda duas comissões: uma do regimento interno, formada por Rubens Tavares Aidar, José Serson e Ugo Recchimuzzi (substituído por Carlos Figueiredo, a partir de 12 de dezembro de 1989, quando se aposentou) e uma da revista Syhnthesis (criada e lançada durante a gestão de Roberto Mário Rodrigues Martins), formada por Valentin Carrion, Floriano Corrêa Vaz da Silva e Vantuil Abdala.
Uma das primeiras missões de Helder Almeida de Carvalho dentro do TRT-2 foi promover, em 27 de setembro de 1988, 13 dias após sua posse, “um programa destinado à difusão de esclarecimentos sobre a AIDS”, tema que cada vez mais dominava o noticiário e o cenário mundial. No mesmo mês, participou do Encontro de Presidentes e Corregedores, ao lado do então diretor-geral Itagiba Souza de Toledo, em Minas Gerais. E depois, em novembro, sediaria novo encontro. Na época, reuniu os 15 regionais existentes. O encontro seria depois conhecido como Coleprecor, o Colégio de Presidentes e Corregedores dos Tribunais Regionais do Trabalho. Helder, por sinal, foi um de seus fundadores. Ao deixar a Presidência do TRT-2, recebeu uma placa em reconhecimento. Ainda em novembro, realizou o II Congresso Brasileiro de Direito Coletivo do Trabalho e o II Seminário sobre Direito Constitucional do Trabalho, sob coordenação do advogado (e magistrado aposentado) Amauri Mascaro Nascimento.


Ao longo de sua gestão, o TRT-2 foi convidado a participar de incontáveis eventos, inaugurações e homenagens. Helder Almeida de Carvalho participou de muitos deles: seja pessoalmente, como na posse de José Luiz Vasconcellos, juiz do TRT-2 nomeado ministro do TST, em 30 de novembro de 1989 (e seu amigo pessoal); ou na instalação do TRT-16 (com sede em São Luís), em 26 de maio do mesmo ano; seja enviando um representante. O vice-presidente do Regional, Nicolau dos Santos Neto (que assumiria após a aposentadoria de Vinícius Ferraz Torres, em 1990), foi um dos que mais compareceu a eventos em nome de Helder. Outro foi o então assessor de comunicação do TRT-2, Antônio Roberto da Veiga, que passaria a ganhar cada vez mais destaque no órgão.


Outro momento marcante de sua gestão foi quando, entre o fim de 1989 e o início de 1990, o TRT-2 recebeu inúmeros ofícios das mais diversas autoridades e entidades da Baixada Santista, requerendo a criação de duas juntas de conciliação e julgamento na cidade de São Vicente e uma em Praia Grande. Um dos principais articuladores foi o deputado federal Gastone Righi, do PTB. De acordo com o jornal “A Tribuna” (30/1/1990), a medida ajudaria a “desafogar a Justiça do Trabalho de Santos e, consequentemente, tornar mais rápido e eficiente o julgamento dos casos provenientes dos dois municípios vizinhos. Righi ainda afirmava que nos últimos 12 meses anteriores ao pleito, “mais de 1200 reclamatórias de São Vicente e cerca de 800 de Praia Grande tiveram curso em Santos, congestionando as juntas dessa comarca e criou inúmeras dificuldades para os empregados, empregadores, sindicatos e para a própria Justiça, que se torna inacessível aos que dela necessitam”. O pedido foi aceito por Helder, que encaminhou os documentos recebidos (inclusive um longo relatório enviado pelo deputado Gastone Roghi) para a Corregedoria do Regional.

Em janeiro de 1989, a gestão de Helder obteve uma grande vitória. Com a publicação da Lei 7.729/1989, o TRT-2 ganhava 38 novas juntas de conciliação e julgamento, sendo 26 na cidade de São Paulo (da 54ª à 79ª), uma em Barueri (a 2ª), uma em Carapicuíba, uma em Cotia, uma em Diadema (a 2ª), duas em Guarujá (1ª e 2ª), três em Guarulhos (5ª a 7ª), uma em Itaquaquecetuba, Poá e São Bernardo do Campo (5ª). Até o término de seu mandato, apenas oito unidades seriam instaladas.

O presidente esteve presente em todas as inaugurações das juntas de conciliação da 2ª Região até setembro de 1990, quando deixou o cargo: da 1ª e da 2ª Juntas do Guarujá (em 30 de junho de 1989), da 5ª, da 6ª e da 7ª JCJs de Guarulhos (em 20 de outubro de 1989), da Junta de Carapicuíba (em 10 de novembro de 1989), da Junta de Itaquaquecetuba (em 8 de dezembro de 1989), e da Junta de Cotia (em 2 de abril de 1990), todas as instaladas durante sua gestão.
JUNTAS DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO EXISTENTES DURANTE A PRESIDÊNCIA DE HELDER ALMEIDA DE CARVALHO
JUNTA DE CONCILIAÇÃO | CRIAÇÃO | INSTALAÇÃO | PRIMEIRO JUIZ-PRESIDENTE |
---|---|---|---|
1ª JCJ de São Paulo | Decreto 6.596/1940 | 1/5/1941 | Oscar de Oliveira Carvalho |
2ª JCJ de São Paulo | Decreto 6.596/1940 | 1/5/1941 | Thélio da Costa Monteiro |
3ª JCJ de São Paulo | Decreto 6.596/1940 | 1/5/1941 | José Veríssimo Filho |
4ª JCJ de São Paulo | Decreto 6.596/1940 | 1/5/1941 | José Teixeira Penteado |
5ª JCJ de São Paulo | Decreto 6.596/1940 | 1/5/1941 | Décio de Toledo Leite |
6ª JCJ de São Paulo | Decreto 6.596/1940 | 1/5/1941 | Carlos de Figueiredo Sá |
7ª JCJ de São Paulo | Decreto-lei 8.087/1945 | 16/3/1946 | João Rodrigues de Miranda Júnior |
8ª JCJ de São Paulo | Lei 2.279/1954 | 9/5/1955 | José Adolfo de Lima Avelino |
9ª JCJ de São Paulo | Lei 2.279/1954 | 9/5/1955 | Antônio Felipe Domingues Uchôa |
10ª JCJ de São Paulo | Lei 2.279/1954 | 9/5/1955 | Roberto Barreto Prado |
11ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Rodolpho de Moraes Barros |
12ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Enéas Chrispiniano Barreto |
13ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Gabriel Moura Magalhães Gomes |
14ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Paulo Marques Leite |
15ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Nelson Ferreira de Souza |
16ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Antônio Lamarca |
17ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Raul Duarte de Azevedo |
18ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Cid José Sitrangulo |
19ª JCJ de São Paulo | Lei 2.694/1955 | 2/1/1957 | Paulo Jorge de Lima |
20ª JCJ de São Paulo | Lei 3.873/1961 | 16/3/1964 | Mauro Quaresma de Moura |
21ª JCJ de São Paulo | Lei 3.873/1961 | 9/3/1964 | Rubens Ferrari |
22ª JCJ de São Paulo | Lei 3.873/1961 | 9/3/1964 | Clóvis de Castro e Campos |
23ª JCJ de São Paulo | Lei 3.873/1961 | 16/3/1964 | Francisco Garcia Monreal Júnior |
24ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/8/1974 | Oswaldo Sant’Anna |
25ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/8/1974 | Antonio Carlos de Moraes Salles |
26ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/8/1974 | Neusenice de Azevedo Barreto Küstner |
27ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/8/1974 | Helder Almeida Carvalho |
28ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/08/1974 | Walter de Moraes Fontes |
29ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/08/1974 | Hildéa Reinert |
30ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/8/1974 | Waldemar Thomazine |
31ª JCJ de São Paulo | Lei 5.643/1970 | 30/8/1974 | Ralph Cândia |
32ª JCJ de São Paulo | Lei 5643/1970 | 30/8/1974 | Carlos Eduardo Figueiredo |
33ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Lillian Daisy Adilis Ottobrini Costa |
34ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Raimundo Cerqueira Ally |
35ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Floriano Corrêa Vaz da Silva |
36ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Adilson Bassalho Pereira |
37ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | José Luiz Vasconcellos |
38ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Vantuil Abdala |
39ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Carlos Eduardo Figueiredo |
40ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | José Claudio Netto Motta |
41ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Lucy Mary Marx Gonçalves da Cunha |
42ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Amador Paes de Almeida |
43ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Claudio Henrique Corrêa |
44ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Alceu de Pinho Tavares |
45ª JCJ de São Paulo | Lei 6.563/1978 | 30/9/1981 | Neusenice de Azevedo Barreto Küstner |
46ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Ruth Cardillo Guidon |
47ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Carlos Francisco Berardo |
48ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Luiz Carlos Gomes Godoi |
49ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Sonia de Araújo Cruz Galberti |
50ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Brás José Mollica |
51ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Luiz Antonio Moreira Vidigal |
52ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Ildeu Lara de Albuquerque |
53ª JCJ de São Paulo | Lei 7.471/1986 | 6/5/1988 | Lizete Belido Barreto Rocha |
54ª JCJ de São Paulo*¹ | Lei 7.729/1989 | 11/12/1990 | Yara Santos Pereira |
55ª JCJ de São Paulo*¹ | Lei 7.729/1989 | 11/12/1990 | José Roberto Barbelli |
56ª JCJ de São Paulo*¹ | Lei 7.729/1989 | 11/12/1990 | Ana Maria Contrucci Brito Silva |
57ª JCJ de São Paulo*¹ | Lei 7.729/1989 | 11/12/1990 | Maria Luiza Moraes Barbosa |
58ª JCJ de São Paulo*¹ | Lei 7.729/1989 | 11/12/1990 | Carlos Francisco Berardo |
59ª JCJ de São Paulo*¹ | Lei 7.729/1989 | 11/12/1990 | Adriano Cândido Mazzeu |
60ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 18/11/1993 | Adriano Cândido Mazzeu*³ |
61ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 18/11/1993 | Marcus Emanuel Canhete |
62ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 18/11/1993 | Luiz Edgar Ferraz de Oliveira |
63ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 18/11/1993 | Waldir Alves |
64ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 18/11/1993 | Lilian Lygia Ortega Mazzeu |
65ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 18/11/1993 | Lucia Gilda Ranieri Russo |
66ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 11/3/1994 | Ana Lucia Feliciano de Camargo |
67ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 11/3/1994 | Silvana Abramo Margherito Ariano |
68ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 11/3/1994 | Lizete Belido Barreto Rocha |
69ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 11/3/1994 | José Carlos Fogaça |
70ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 11/3/1994 | Maria Inês Ré Soriano |
71ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Hiroko Arie Pinheiro |
72ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Doris Ribeiro Torres Prina |
73ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Magda Aparecida Kersul de Brito |
74ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Manoel Antônio Ariano |
75ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Valter Fernandes |
76ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/04/1994 | Paulo José Ribeiro Mota |
77ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Ana Izabel Ferreira Bertoldi |
78ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | José Eduardo Malhadas |
79ª JCJ de São Paulo*² | Lei 7.729/1989 | 29/4/1994 | Fausto Couto Sobrinho |
1ª JCJ de Barueri | Lei 6.563/1978 | 5/9/1984 | Wilma Nogueira de Araújo |
2ª JCJ de Barueri*² | Lei 7.729/1989 | 28/6/1991 | Ana Cristina Lobo Petinati |
1ª JCJ de Carapicuíba*¹ | Lei 7.729/1989 | 10/11/1989 | José Maria da Paz |
1ª JCJ de Cotia* | Lei 7.729/1989 | 2/4/1990 | Luiz Antônio Moreira Vidigal |
1ª JCJ de Cubatão | Lei 6.563/1978 | 21/9/1979 | Antônio José Teixeira de Carvalho |
2ª JCJ de Cubatão | Lei 6.563/1978 | 21/09/1979 | João Maria Valentim |
3ª JCJ de Cubatão | Lei 7.471/1986 | 17/11/1987 | Mariângela de Campos Argento Muraro |
4ª JCJ de Cubatão | Lei 7.471/1986 | 17/11/1987 | Odete Silveira Moraes |
1ª JCJ de Diadema | Lei 6.563/1978 | 09/3/1979 | Braz José Mollica |
2ª JCJ de Diadema*² | Lei 7.729/1989 | 10/5/1991 | Heleni Bertoncine Miezza |
1ª JCJ de Franco da Rocha | Lei 6.563/1978 | 30/11/1984 | Antônio da Graça Caseiro |
1ª JCJ de Guarujá*¹ | Lei 7.729/1989 | 30/6/1989 | Antônio da Graça Caseiro |
2ª JCJ de Guarujá*¹ | Lei 7.729/1989 | 30/6/1989 | Maria Ignez Silveira |
1ª JCJ de Guarulhos | Lei 3.873/1961 | 23/10/1962 | Marcondes Ancilon Aires de Alencar |
2ª JCJ de Guarulhos | Lei 6.563/1978 | 2/3/1979 | Antônio da Silva Filho |
3ª JCJ de Guarulhos | Lei 7.471/1986 | 27/2/1987 | Carlos Alberto de Noronha |
4ª JCJ de Guarulhos | Lei 7.471/1986 | 27/2/1987 | Nilce Vieira de Oliveira |
5ª JCJ de Guarulhos*¹ | Lei 7.729/1989 | 20/10/1989 | Maria Alexandra Kowalski Motta |
6ª JCJ de Guarulhos*¹ | Lei 7.729/1989 | 20/10/1989 | Carlos Alberto de Noronha |
7ª JCJ de Guarulhos*¹ | Lei 7.729/1989 | 20/10/1989 | Fernando Antônio Sampaio da Silva |
1ª JCJ de Itapecerica da Serra | Lei 6.563/1978 | 30/3/1979 | Lillian Daisy Adilis Ottobrini Costa |
1ª JCJ de Itaquaquecetuba*¹ | Lei 7.729/1989 | 8/12/1989 | Edilberto Pinto Mendes |
1ª JCJ de Mauá | Lei 5.892/1973 | 15/8/1974 | Júlia Romano Correa |
1ª JCJ de Mogi das Cruzes | Lei 3.873/1961 | 20/11/1962 | Aluysio Mendonça Sampaio |
1ª JCJ de Osasco | Lei 5.643/1970 | 18/9/1971 | Rubens Ferrari |
2ª JCJ de Osasco | Lei 7.471/1986 | 17/11/1987 | Constantino Uzzun |
1ª JCJ de Poá*² | Lei 7.729/1989 | 7/5/1993 | Maria Luíza Moraes Barbosa |
1ª JCJ de Santo André | Decreto-lei 9.110/1946 | 1/5/1946 | Antônio Felipe Domingues Uchôa |
2ª JCJ de Santo André | Lei 5.298/1967 | 12/11/1969 | Clóvis Canelas Salgado |
3ª JCJ de Santo André | Lei 7.471/1986 | 12/9/1986 | Vilma Capato |
1ª JCJ de Santos | Decreto-lei 5.926/1943 | 4/4/1944 | José Ney Serrão |
2ª JCJ de Santos | Lei 2.020/1953 | 1/4/1954 | Ildélio Martins |
3ª JCJ de Santos | Lei 5.643/1970 | 15/9/1971 | Walter Cotrofe |
4ª JCJ de Santos | Lei 7.471/1986 | 20/03/1987 | Janete Bludeni |
5ª JCJ de Santos | Lei 7.471/1986 | 20/03/1987 | Antonio José Teixeira de Carvalho |
6ª JCJ de Santos | Lei 7.471/1986 | 20/03/1987 | Alcina Maria Fonseca Beres |
1ª JCJ de São Bernardo do Campo | Lei 3.873/1961 | 7/9/1962 | José Amorim |
2ª JCJ de São Bernardo do Campo | Lei 6.563/1978 | 16/2/1979 | Vantuil Abdala |
3ª JCJ de São Bernardo do Campo | Lei 6.563/1978 | 16/2/1979 | Alceu de Pinho Tavares |
4ª JCJ de São Bernardo do Campo | Lei 7.471/1986 | 18/03/1988 | Ricardo César Alonso Hespanhol |
5ª JCJ de São Bernardo do Campo*² | Lei 7.729/1989 | 22/5/1992 | Maria da Conceição Batista |
1ª JCJ São Caetano do Sul | Lei 2.763/1956 | 17/4/1957 | Bento Pupo Pesce |
2ª JCJ São Caetano do Sul | Lei 7.471/1986 | 2/10/1987 | Nei Frederico Cano Martins |
1ª JCJ de Suzano | Lei 6.052/1974 | 23/8/1974 | Eldha Ebsan Menezes Duarte |
*² Juntas de conciliação e julgamento criadas durante a gestão de Helder Almeida de Carvalho e instaladas posteriormente.
*³ O juiz Adriano Cândido Mazzeu assumiu, cumulativamente, e em caráter provisório, as juntas 59 e 60 de São Paulo.
Ao deixar a presidência, o TRT-2 contava com 93 juntas de conciliação e julgamento, sendo 53 na Capital e 40 fora da sede. Até o fim do ano, a Capital passaria a contar com seis novas unidades (instaladas em 11 de dezembro de 1990). O aumento da quantidade de processos seria substancial: juntas, as unidades da cidade de São Paulo receberam, em 1990, 158.007 novos processos (diante de 129.732 em 1988, um aumento de 21,79%). Já as 40 unidades de fora da sede receberam 84.442 novas reclamações (ante 60.049 em 1988, um aumento de 40,62%). Levando-se em consideração as reclamações recebidas em primeira instância em toda a 2ª Região, houve um aumento de 27,75% (de 189.781, em 1988, para 242.449, em 1990).
E apesar de o interior do estado de São Paulo já não pertencer mais à nossa jurisdição, o respeito e a consideração pelo novo Regional, parte indelével de nossa história, sempre estiveram presentes. Nos anos em que esteve à frente do TRT-2, Helder fez questão de enviar um representante em cada inauguração de junta de conciliação da 15ª Região. Foi o que aconteceu em Araras (15/8/1989), Porto Ferreira (29/9/1989) e Jaú (16/2/1990), comprovando a relação bastante cordial entre TRT-2 e TRT-15.
No âmbito administrativo, durante a gestão de Helder à frente do TRT-2, foram realizados diversos concursos para servidores, nas mais diferentes áreas e também concursos para a magistratura. O presidente criou ainda o Setor de Execução de Programas Sociais, em maio de 1989. E o de Cadastro de Juízes, instalado em abril do mesmo ano.
Helder realizou também uma exposição de artes com o objetivo de angariar recursos para a creche do TRT-2, inaugurada em sua gestão. Fruto de um desejo que vinha desde de gestões anteriores, a creche do TRT-2, que levaria, anos mais tarde, o nome da esposa do juiz Rubens Ferrari (presidente entre 1986 e 1988), Ruth Drummond Costa Ferrari (falecida às vésperas da inauguração da instituição), só entraria em funcionamento meses depois, em 28 de maio de 1990.


Outra Ruth, Bulcão Carvalho, se dedicaria bastante à instituição. Já aposentada, a professora, esposa do presidente Helder Almeida de Carvalho, lá passaria bastante tempo, tendo chegado a assumir o posto de presidente da instituição. Em 13 de setembro de 1990, Helder fez questão de elogiar o esforço e dedicação dos servidores que atuaram na creche.


A primeira criança da creche foi Lídia Bueno, filha dos servidores Tânia e Vinícius Nisi (ela, aposentada desde 2010). Lídia viria a ser estagiária do TRT-2; em 2010, quando a creche completou 20 anos de existência, concedeu uma entrevista à Secretaria de Comunicação, em produção que comemorava o aniversário da creche.
Uma equipe com quem o presidente podia contar
No período em que Helder Almeida de Carvalho esteve à frente do TRT-2, a equipe da Presidência não era muito grande, mas era, sim, extremamente coesa e dedicada ao magistrado.
Roseli Alba Godoy (servidora do TRT-2 entre 1984 e 2013) era uma das pessoas que fazia parte da equipe. Roseli trabalhava no Setor de Registro e Autuação, quando o protocolo dos dissídios coletivos, função de que era responsável, deixou de ser feito no setor. “Despachada para o Tribunal Pleno”, como ela descreve, com bom humor, passou a conhecer o tribunal profundamente. E entrou em contato, pela primeira vez, com o juiz Helder Almeida de Carvalho, que era vice-presidente do TRT-2, na época. “Trabalhávamos no mesmo andar, se não me engano no 13º”, lembra.
Como a Vice-Presidência era responsável pelos dissídios coletivos, Roseli precisava sempre verificar a agenda de Helder para poder resolver questões de seu setor, o qual começou a chefiar algum tempo depois. Em 1989, após a eleição de Helder para a Presidência do Regional, Roseli passou a trabalhar diretamente com o magistrado. “Ele era uma pessoa muito dedicada ao trabalho, muito inteligente, um juiz que ninguém poderia colocar defeito”, conta a servidora.
Na Presidência, Roseli exercia o cargo de secretária-datilógrafa. Ali dentro, era responsável por organizar o gabinete: fazia atendimento na recepção da Presidência, fazia triagem, atendia o telefone, operava telex (um sistema de comunicação bastante comum até o fim do século passado), em especial com assuntos que vinham do TST e de outros Regionais. Cuidava ainda da parte de viagens, de encontros com outras autoridades. Por fim, inseria resultados do recurso de revista no sistema. Era uma época em que o tribunal começava a se informatizar. Os computadores estavam chegando ao Regional. Havia muitas novidades. Para se ter uma ideia do quanto tudo ainda engatinhava, enquanto os assessores eram responsáveis por fazer despachos e os recursos de revista datilografados (nas máquinas elétricas IBM, com suas esferas), outros servidores tinham como função “inserir o resultado no computador”, no sistema Ben-Te-Vi, criado na época da presidência de Pedro Benjamin Vieira (sistema cujo nome havia sido dado pelo servidor Edison Vieira Pinto, quando era diretor-geral da Administração). “Éramos híbridos”, brinca Roseli. A frase dá uma ideia do quanto tudo ainda era compartimentado e difícil. Não havia computadores para todos.
Servidor do TRT-2 dede 1987, José Pedro Bulcão Carvalho também trabalhou na Presidência durante a gestão de Helder. Além de inserir os dados no computador, como mencionou Roseli, fazia movimentação de processos e, ocasionalmente, até produção da parte gráfica de eventos, como aconteceu no Encontro de Presidentes e Corregedores da Justiça do Trabalho, sediado pelo TRT-2, em novembro de 1988. Mas sua principal função era “trabalhar no computador”, o que reforça a ideia do quanto tudo era bastante incipiente.

Outra importante tarefa de José Pedro era a revisão de português – algo que seu pai sempre cobrou bastante. Dos filhos e da equipe. Katia Farias dos Santos, servidora aposentada que atuou ao lado do magistrado entre os anos de 1986 e 1990 conta que Helder era muito exigente com a língua portuguesa. “Ele falava, por exemplo: nome próprio não se separa. Ele corrigia mesmo. Não admitia português errado“, conta.




Além de Roseli, de Katia e de José Pedro, trabalhavam ainda na Presidência: Marli Lamarca, Marilia Fagnani e Artur Almeida Carvalho, irmão de Helder, também formado em direito, que tinha o cargo de assessor. Edson Nogueira Alexandre, Jorge Costa Silva (o Jorginho) completavam o time: eram conhecidos como “os meninos da Presidência”, junto com Jorge Silvestre e Luiz da Silva Falcão, todos bem novos – famosos pela Sede por terem que resolver as mais diversas questões do gabinete por todo o prédio. Durante bastante tempo trabalharam juntos. Jorge Silvestre, que até hoje segue por lá, teve um de seus poucos lapsos temporais fora da Presidência exatamente nessa época.

Ninguém, no entanto, tinha uma relação de tamanha afinidade e respeito com o magistrado quanto Katia. A servidora, que entrou no TRT-2 em 1985, estava lotada em Dissídios Coletivos quando foi convidada a integrar o gabinete da Vice-Presidência do TRT-2, pelo juiz Helder Almeida de Carvalho.
Katia vinha de alguns anos trabalhando na iniciativa privada, em um banco, quando foi nomeada para o TRT-2. Foi um começo bastante difícil para a servidora, que percebeu o quanto tudo levaria mais tempo a ser feito, se fosse autorizado a ser feito. “Eu senti muita diferença com essa falta de autonomia. Nada no Tribunal podia. Era tudo muito burocrático“. Katia recorda-se que comentava bastante sobre essa questão com o magistrado.
Pai de três meninos, Helder Almeida de Carvalho desenvolveu uma relação profissional bastante próxima com a servidora, o que fazia com que levasse as opiniões de Katia em extrema consideração. Quando Helder assumiu a Vice-Presidência, Katia tinha 21 anos, dois a menos que o filho mais novo do magistrado. Quando o juiz foi eleito presidente, Katia foi nomeada secretária-geral da Presidência. Até hoje é a pessoa mais jovem a assumir o cargo. “Ele apostou em mim, acreditou em mim, me apoiou. Devo muito a ele”, comenta.

Katia Farias dos Santos conta que Helder Almeida de Carvalho era muito exigente, mas extremamente respeitoso quanto à forma como ela lidava com as questões administrativas do setor: “Ele me dava autonomia no que fosse preciso e possível. Ele dizia: ‘Só me fala o que está acontecendo e o que você acha que precisa ser feito”. Segundo a servidora, Helder queria que “as coisas andassem”. “O importante era o trabalho feito – e bem-feito“, complementa.
Roseli Alba Godoy conta que Helder Almeida de Carvalho era um juiz muito competente. “Ele era muito apto, muito capaz para exercer as funções”, comenta a servidora, que faz questão de mencionar que o magistrado era ainda um bom chefe: “Ele era uma boa pessoa com toda a equipe que trabalhava com ele. Sempre solícito, atencioso. Era aberto para conversar com o pessoal”. Mas não há qualquer síndrome de Poliana: “Tinha dias difíceis, como qualquer um. Mas, de uma maneira geral, não tenho do que reclamar. Ele era uma excelente pessoa”, afirma Roseli.

Segundo a servidora, Helder era ainda bastante discreto. “Às vezes ele gostava até de sair pela porta dos fundos da Presidência, mais reservada. Ele não gostava de muito alarde”, relembra Roseli, que era responsável ainda por diversas tarefas relacionadas à vida do presidente, como organizar questões da vida doméstica, pessoal e até do serviço de banco, ocasionalmente: “Era comum antigamente”.
Para Roseli, a gestão do presidente Helder Almeida de Carvalho foi muito tranquila, “muito serena”. “O dr. Helder deixava as coisas acontecerem”, de forma bastante calma.
Edson Nogueira Alexandre, servidor do TRT-2 desde 1984, um dos “meninos da Presidência”, esteve lotado no setor por dez anos, atuando ao lado de quatro presidentes: Pedro Benjamin Vieira, Rubens Ferrari, Helder Almeida de Carvalho e Nicolau dos Santos Neto. Sobre Helder guarda a lembrança de ser um presidente que buscava não criar muitas polêmicas sobre determinadas questões: “Ele tentava resolver as coisas sem muito tumulto. Foi um presidente bem tranquilo, uma gestão muito tranquila”, relembra. Edson conta que mesmo com os problemas que surgiam no dia a dia, poucas vezes viu o magistrado irritado ou alterado. Uma característica que se recorda bem é que Helder gostava de cumprimento do horário. Algo que Nancy Annibal também comentou.

Um ponto de maior turbulência durante a gestão de Helder talvez tenha sido a aposentadoria de Vinícius Ferraz Torres, então vice-presidente, em 9 de fevereiro de 1990, o que levou a uma alteração em quase a totalidade do corpo diretivo do TRT-2, que passou a contar com Nicolau dos Santos Neto, na Vice-Presidência; José Victorio Fasanelli, na Corregedoria; e Aluysio Simões de Campos (que havia sido presidente entre 1982 e 1984), na Vice-Corregedoria. Helder seguia na Presidência.
Faltavam poucos meses para o fim da gestão, porém. No dia 15 de setembro de 1990, tomaria posse o novo corpo diretivo do TRT-2 para o biênio 1990-1992. Foram eleitos Nicolau dos Santos Neto para o cargo de presidente e José Victorio Moro, para o cargo de vice. José Victorio Fasanelli e Valentin Carrion foram eleitos para corregedor e vice-corregedor, respectivamente.


Ao longo do tempo à frente do TRT-2, Helder Almeida de Carvalho foi homenageado em diversas ocasiões: pelo Sindicato dos Odontologistas do Estado de são Paulo (em janeiro de 1989), pela Associação dos Juízes Classistas da 15ª Região (título de sócio benemérito, “pelos relevantes serviços prestados à representação paritária na Justiça do Trabalho, em junho de 1989 – por sinal, segundo José Pedro, Helder era bastante favorável à representação classista), pelo TST (condecorado como Grande Oficial do quadro ordinário da Ordem do Mérito Judiciário do TST, em agosto de 1989). Recebeu ainda o diploma e insígnias da Ordem de Santo Lázaro (em agosto de 1989).





Os últimos anos de TRT-2
Quando Helder Almeida de Carvalho deixou a Presidência do TRT-2, o magistrado tinha 63 anos, dos quais quase 34 dedicados à Justiça do Trabalho da 2ª Região. Mesmo com a saúde um pouco debilitada devido a um desgaste no quadril, o que fazia com que ele usasse uma bengala, Helder sempre se manteve ativo na 2ª Região.
“Quando o dr. Helder deixou a Presidência, ele voltou para o gabinete, e eu o acompanhei por mais quatro anos, como secretária. Aí criaram o cargo de assistente para o gabinete, e eu assumi”, conta Roseli Alba Godoy. Naquela época, relembra a servidora aposentada, os gabinetes contavam com apenas duas pessoas: “A secretária fazia tudo: pauta, revisão…”.

Na metade da década de 1990, foi criado o cargo de assistente. Apesar de ser formada em direito (requisito necessário para assumir o cargo), Roseli, inicialmente, não foi considerada para a posição: “Ele começou a chamar pessoas para entrevistar para ser assistente dele. Eu até me questionei, porque ele sabia que eu era formada em direito, mas fiquei quieta”. Depois de um tempo, muita gente entrevistada e nenhuma decisão, um dos filhos falou: “Pai, mas a Roseli está há anos com você… Por que você não a coloca no cargo de assistente?”, ao que Helder teria respondido: “Poxa, é mesmo”, como se tivesse lembrado, naquele momento, do diploma de sua funcionária. Roseli assumiu a posição e teve como incumbência encontrar uma nova secretária. A escolhida foi Zildete Soares Cotrim, que acabou por atuar no gabinete por apenas um ano, em 1993.

Servidora do TRT-2 entre 1989 e 2018, Zildete vinha do setor de Compras e Licitações quando passou a integrar o gabinete do juiz Helder Almeida de Carvalho. A servidora aposentada conta que o magistrado era bastante sistemático. Todos os dias, havia uma rotina. “Eu chegava às 11h e já ligava para saber a que horas o motorista ia buscá-lo”. Helder ia todos os dias para o tribunal. Fazia questão. Seu humor às vezes variava e Zildete conta que recorria a Katia, com quem o juiz tinha uma boa relação, apesar de muitas desavenças: “Às vezes ele chegava irritado e não queria papo com ninguém. Eu ligava pra Katia: ‘Katia, sobe porque o chefe hoje está bravo’, relembra entre risos. Katia confirma a história: “Em determinados momentos, eu era a única que conseguia falar com ele”, conta a servidora aposentada.
Helder gostava muito de ler. Lia o jornal “O Estado de S.Paulo” todos os dias, ainda em sua casa. Mas trazia-o, diariamente, para o Tribunal: “Ele vinha com os cadernos do jornal todos separados. Cada caderno devia ser entregue para uma pessoa diferente”, relembra Zildete, responsável pela distribuição diária.

Artur Almeida Carvalho continuou no gabinete de Helder. Era responsável pelos votos. Ocasionalmente, recebia carona de Roseli, que ia buscá-lo e levá-lo à sua residência. Segundo a servidora, havia um respeito muito grande entre todos.
Roseli ficou no gabinete do juiz Helder Almeida de Carvalho até 1994, quando foi designada para uma nova lotação. Guarda boas recordações do período em que atuou ao lado do magistrado: “Quando tive minha menina, ele foi na maternidade me ver”. E tem profunda admiração por Helder: “Pelo juiz que ele foi”, conta.

Em seus últimos anos de TRT-2, Helder voltou a atuar na 4ª Turma. Participou ainda da comissão organizadora de concursos da magistratura e substituiu por diversas vezes os juízes que se afastavam dos cargos diretivos, atuando como vice-presidente Judicial e como corregedor – função que exercia como decano da Corte.
Em 1997, Helder completaria 70 anos. E, com isso, era chegada a hora da famigerada aposentadoria compulsória. Seu último dia foi 9 de junho de 1997. Nenhum dia antes, nenhum dia depois de seu aniversário – e aquilo que lhe era de direito e de obrigação.
# | PRESIDENTES DO TRT-2 NOS ANOS DE ATUAÇÃO DE HELDER ALMEIDA DE CARVALHO | MANDATO |
---|---|---|
7 | Hélio Tupinambá Fonseca | 1954-1959 |
8 | Décio de Toledo Leite | 1959-1963 |
9 | Hélio de Miranda Guimarães | 1963-1967 |
10 | Homero Diniz Gonçalves | 1967-1976 |
11 | Roberto Mário Rodrigues Martins | 1976-1978 |
12 | Nelson Virgílio do Nascimento | 1978-1980 |
13 | Nelson Ferreira de Souza | 1980-1981 |
14 | Antônio Lamarca | 1981-1982 |
15 | Aluysio Simões de Campos | 1982-1984 |
16 | Pedro Benjamin Vieira | 1984-1986 |
17 | Rubens Ferrari | 1986-1988 |
18 | Helder Almeida de Carvalho | 1988-1990 |
19 | Nicolau dos Santos Neto | 1990-1992 |
Após aposentado, foi convidado por empresas e por amigos para ser consultor. Mas não quis. Ele gostava de escrever, inclusive poemas. Lia dicionário – gostava muito de pesquisar a etimologia das palavras. Gostava também de grego e latim. E aproveitou seu tempo. Vez ou outra, a esposa, Ruth, incentivava-o a viajar.




Com João Nazaré Cardoso, em Ouro Preto; com Carlos e a esposa, Maria José; com Ruth Bulcão em Brasília; com Geraldo Perez Ferreira e a esposa, Adelaide; e a própria esposa, Ruth, na praia; com João Nazaré Cardoso e a esposa, Regina, em viagem na Argentina. Fonte: fundo Helder Almeida de Carvalho / acervo TRT-2.
A saúde, porém, era uma grande preocupação da família. “Ele usava uma bengala porque tinha um problema no quadril, um desgaste na cabeça do fêmur. Precisava fazer uma cirurgia para colocar a prótese, mas ele foi adiando”, relembra José Pedro, o filho mais velho. O magistrado não queria fazer a cirurgia. O problema foi se agravando nos anos 1980. “Quando ele não podia mais operar, ele resolveu que faria. E teve que conviver com a dor de forma permanente”. É possível observar em sua pasta funcional, alguns afastamentos ao longo de sua carreira, inclusive durante a presidência.
Helder começou a apresentar sinais de Alzheimer após sua aposentadoria. Aos poucos, porém, sua saúde foi se deteriorando.
O versátil magistrado, amante das letras e das leis, dos céus e das quadras, faleceria em 2013. Três anos após sua esposa, Ruth, falecida em 2010, vítima de um avassalador câncer no pulmão. Deixou três filhos e seis netos.



Ao longo de sua carreira, Helder Almeida de Carvalho fez muito. E não apenas no Tribunal. Foi membro titular do Instituto Latinoamericano de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social; membro da Associación Iberoamericana de Derecho del Trabajo; professor assistente das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU – de 1970 a 1973) e da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas D. Pedro II (1970-1975). Participou de inúmeros congressos sobre direito do trabalho no Brasil e no exterior, e foi testemunha ocular da história da Justiça do Trabalho, tendo participado de seus primórdios, de sua evolução, e de momentos de extrema importância, como o I Encontro Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho, a fundação da Amatra-2 e do Coleprecor. Foi mais um daqueles importantes personagens da história do TRT-2, que ajudaram não apenas a construir o Regional, mas também a engrandecer esta tão relevante instituição.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.
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Ele foi um grande exemplo pra todos nós
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