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PARCEIROS DA MEMÓRIA: SCHEILLA REGINA BREVIDELLI

MAURÍCIO MIGUEL ABOU ASSALI: O JUIZ CONCILIADOR

Eu tive o prazer de trabalhar junto com o dr. Maurício por cinco anos, no período em que ele foi substituto na 7ª Junta  de Conciliação e Julgamento, no 7º andar do prédio da av. Ipiranga, 1225, por volta de 1998 a 2003.

Foi um período em que a nossa juíza titular, dra. Maria Elisabeth Pinto Ferraz Luz Fasanelli, foi substituir na segunda instância.

Ele era uma pessoa extremamente comunicativa e sempre tratou a todos os servidores com atenção e amabilidade. Além de ser uma pessoa muito bem humorada e se colocar de uma maneira simples no trato pessoal.

A marca do dr. Maurício como juiz era a ênfase na conciliação dos processos, muito tempo antes de se conceber o CEJUSC.

Ele costumava ler a inicial e a defesa e, a partir daí, traçar em sua mente quais pedidos tinham a chance real de serem deferidos, e, depois, fazia cálculos do valor de uma possível composição. Era bastante insistente com as partes, sugeria um número de parcelas elevadas, ou um valor menor, tentando cercar todas as condições que pudessem viabilizar um acordo. E, ao final, conseguia um número grande de conciliações.

Tendo em vista que a maioria dos processos se referem a valores pequenos, que englobam meras verbas rescisórias, envolvendo pequenas empresas e o alto índice de inadimplência que sempre acompanha momentos de crise econômica, ele buscava a solução mais razoável para o resultado do processo. Era um esforço realmente louvável.

E esse resultado fez com que a pauta de julgamentos e das audiências da vara diminuísse muito ao longo dos anos em que atuou na 7ª Junta, como assim era à época. 

Eu me lembro de um acordo emblemático que envolvia uma grande empresa, que na fase de execução, devia um valor vultoso, por conta de um advogado da defesa que, à época do início do processo, não arguiu a prescrição das verbas devidas, por longos anos de trabalho do reclamante na empresa. 

Foram agendadas inúmeras audiências de tentativa de conciliação, em um processo em que o reclamante tinha idade avançada e estava gravemente enfermo. Os advogados de ambas as partes eram de escritórios grandes e famosos e houve um grande duelo travado entre os dois na sala de audiências. Mas dr. Maurício conseguiu com que as partes firmassem um acordo em um elevado valor, em um momento que ficou marcado para sempre na memória da Vara.

Scheilla Brevidelli, Maria Elisabeth Pinto Ferraz Luz Fasanelli, Maurício Miguel Abou Assali, Enio Ocimoto Oda, TRT-2, 7ª JCJ de São Paulo
A servidora Scheilla Brevidelli (do lado direito, de blusa verde), com a equipe da 7ª JCJ de São Paulo. Na foto, possível ver a juíza Maria Elisabeth Pinto Ferraz Luz Fasanelli (de tailleur bege) e o juiz Maurício Miguel Abou Assali (de terno preto, atrás), em registro do ano de 1998 ou 1999. Foto: fundo Scheilla Regina Brevidelli / acervo TRT-2.

Quando a dra. Beth foi promovida para a segunda instância, chamou a Celina, secretária de audiências, para trabalhar com ela. Então eu fui trabalhar na sala de audiências em seu lugar. Por meses o dr. Maurício me chamava de Celina e eu achava muito engraçado

Como ele fazia muitos acordos, como secretária eu tinha que organizar muitos papéis e documentos para redigir o texto de cada um deles. Aos poucos, fui me acostumando com o ritmo, que exigia extrema atenção e organização, mantendo sempre a calma. Muitas vezes eu interrompia tudo e ia ao banheiro, porque nunca esqueci minha dimensão humana em meio a todo aquele movimento frenético, impresso pelas inúmeras conciliações. Acabei por me divertir, conversar com os advogados e aproveitar tudo o que de bom eu podia extrair da experiência.

Scheilla Brevidelli, no balcão da 7ª Vara do Trabalho. Foto: fundo Scheilla Regina Brevidelli / acervo TRT-2.

Houve momentos tensos, em que uma das partes teve uma convulsão na sala; houve momentos muito engraçados, em que o dr. Maurício imprimia seu bom humor. A vida se desdobrava em seus contrastes naquela sala.

Mas o dr. Maurício também era muito festeiro. Ele falava que a gente podia trazer bolo Pullman com sorvete no aniversário para comemorar. E assim eu fiz em uma das minhas comemorações. Ele se divertia muito com a gente.

Em 2003 houve a escolha do juiz titular da vara pelo critério de merecimento. E por anos o dr. Maurício não tirava férias para não perder a vara no rodízio da substituição. Mas ele não foi o escolhido, apesar dos resultados da vara serem exemplares. Eu me lembro da sua profunda decepção e tristeza com o fato. Ele teve que substituir mais alguns anos antes de conseguir a titularidade da 1ª Vara, na qual não tive a oportunidade de trabalhar novamente com ele.

Sua passagem prematura deixa surpresa e tristeza, mas muitas lembranças doces nos corações de quem trabalhou com ele e aprendeu a admirar suas qualidades.

Scheilla Regina Brevidelli é servidora do TRT-2 desde 1991. Formada em Psicologia e em Direito, atou na primeira e na segunda instâncias. Atualmente, está lotada na Coordenadoria de Gestão Documental. É poetisa e possui três livros publicados: “Flores que voam”, “Hilstianas v.1” e “Seu escrito era uma voz”. Mantém ainda um blog, o “Uma Prosa Boa”, e um perfil no Instagram, o @scheillabrevidelli_arte. Scheilla atuou ao lado Maurício Assali na antiga 7ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Paulo (atual 7ª Vara).


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Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

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Publicado por memoriatrt2

Aqui neste perfil, você encontra os textos produzidos por colegas que contribuem para a produção de conteúdo dentro do Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor que surgiu no segundo semestre de 2017, com o objetivo de pesquisar e divulgar a memória institucional do TRT-2.

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