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PARCEIROS DA MEMÓRIA: EDUARDO ROCKENBACH PIRES

UMA PEQUENA HOMENAGEM

Um dia, faz alguns anos, eu tinha pouco tempo de magistratura, encerrei uma pauta de audiências lá pelas 14 horas e fui almoçar. Encontrei um colega juiz mais experiente, almoçando no mesmo lugar. Aproveitei para pedir um conselho sobre o caso problemático que acabara de instruir. Eu poderia decidir A ou B, e cada possibilidade tinha suas consequências, mas as provas admitiam as duas soluções que eu via. Qual delas adotar?

O juiz mais experiente disse: “Não sei, nem posso saber. Você é o juiz do caso, viu os depoimentos. A solução está aí dentro de você, não de mim. Procure a decisão mais justa possível”. Ele achou que não tinha me ajudado aquele dia; mas ajudou sim. E eu lhe disse isso tempos depois.

Esse mesmo juiz contava casos de audiência impagáveis. Um dia ele falou de um processo entre o ex-empregado de uma pizzaria e o ex-patrão. Ouviu os depoimentos e percebeu que, apesar dos pedidos de verbas rescisórias e horas extras, a rusga entre eles começou porque o patrão teria negado um pedido para que o empregado levasse uma pizza para casa, sem custo. “Ele queria a mais cara do cardápio”, disse o réu. “Era uma ocasião especial na família”, respondeu o autor. Depois de muitos cálculos e argumentos, o juiz conseguiu que fizessem um acordo para encerrar a demanda. Já com os ânimos desanuviados, olhou para o réu e disse: “Agora, vou pedir um favor para o senhor. Um favor especial do senhor pra mim”. “Pode falar, doutor”. “Eu quero uma pizza do seu estabelecimento”. “Mas é claro, doutor. Até duas. É só escolher”. Mas o juiz sorriu: “Eu quero aquela pizza cara que o nosso amigo ali quis; e eu quero que o senhor mande entregar lá na casa dele. Ele merece, não merece?” E com o sorriso de todos a audiência foi encerrada, com uma pizza já encomendada para o ex-empregado.

Se a história foi exatamente assim, não sei; nem tenho como saber. Todas aquelas saborosas histórias foram vividas e contadas por ele, estavam dentro dele, não de mim. E ele, lamentavelmente, encerrou sua jornada entre nós e não mais poderá confirmar.

Seu nome: Maurício Assali. Um juiz extraordinário, uma figura humana esplêndida, um amigo inesquecível.

O juiz Maurício Assali, em registro feito pelo fotógrafo Moacyr Lopes Junior. Fonte: acervo Folha.

Vá em paz, meu amigo. Sua missão foi cumprida com louvor. Obrigado por tudo.


Eduardo Rockenbach Pires foi servidor do TRT-24 entre 2004 e 2008. Desde 2008, é juiz do TRT-2. Formado em direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS, é mestre e doutor em direito do trabalho pela Faculdade de Direito da USP. O magistrado conheceu o juiz Maurício Assali em seu curso de formação inicial e com ele manteve contato pelos corredores do Fórum Ruy Barbosa e nas dependências da Amatra-2. O texto foi redigido na época do falecimento do juiz Maurício Assali.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

Acesse também o Centro de Memória Virtual e conheça nosso acervo histórico, disponível para consulta e pesquisa.

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Publicado por memoriatrt2

Aqui neste perfil, você encontra os textos produzidos por colegas que contribuem para a produção de conteúdo dentro do Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor que surgiu no segundo semestre de 2017, com o objetivo de pesquisar e divulgar a memória institucional do TRT-2.

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