Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora

SEASON FINALE

Projetos de história oral são muito comuns nos trabalhos de memória institucional, e não por menos: eles colocam em movimento vozes, imagens e lembranças de um passado que, de alguma forma, compartilhamos no dia a dia do trabalho da instituição. E a memória é aquele local seguro, onde as saudades e a felicidade se preservam, ambas tão boas de serem compartilhadas e capazes de nos fazer lembrar daquilo que nos motiva, nos incentiva a realizar e nos faz humanos.

Assumimos o compromisso de fazer nosso projeto de história oral, o Memórias Narradas, de forma “artesanal”, no melhor espírito “faça você mesmo” (que está tão em voga, certo?). Planejamos, pesquisamos e colocamos a mão na massa. Gravamos com nossos celulares, aprendemos a editar com tutoriais da internet, pegamos dicas com colegas… e concluímos essa que foi a nossa “primeira temporada”. Esperamos, claro, que seja possível realizar mais temporadas, de forma a tornar o Memórias Narradas um projeto de longa duração.

O aprendizado é um elemento natural do processo de execução: a cada vídeo editado e a cada texto escrito, evoluímos um pouco, melhoramos a técnica, aprimoramos a execução. Mas uma coisa que é constante em todos os vídeos, desde o primeiro frame, é a vontade e o sentimento colocados sobre eles: de homenagear e compartilhar trajetórias de vida que tiveram como palco a mesma instituição em que hoje trabalhamos. Desde o primeiro até o último vídeo, o desejo puro e presente é o de se lembrar e celebrar as pessoas que ajudaram a construir este Regional.

Hoje resgatamos as grandes histórias de vida que passaram por nossas telas nessa primeira temporada. Trajetórias que tiveram em comum muito mais do que o ambiente de trabalho que hoje partilhamos: também temos muitas das aspirações, esperanças e objetivos de nossos protagonistas.

Nosso episódio “piloto”, que trouxe a grande responsabilidade de iniciar o projeto, nos apresentou o saudoso Luiz da Silva Falcão, sempre lembrado pela sua dedicação ao trabalho, humildade e companheirismo. Falcão, infelizmente, nos deixou em 2020. Mas guardamos na memória a lembrança de seu sorriso largo, seu bom humor e otimismo contagiante. Falcão nos contou sobre sua história, a de um menino de origem humilde, que sonhava em trabalhar no prédio “chique” do Tribunal. Um jovem dedicado e carismático, que se tornou um grande homem, que construiu uma bela carreira e conquistou muitos amigos. Falcão também é um nome a ser reconhecido na luta pelos direitos dos servidores e, em sua entrevista, nos mostrou, com suas belas palavras, o significado de ser servidor público.

Assista ao episódio do projeto com Luiz da Silva Falcão.

Sua exemplar trajetória no TRT-2 ficou marcada em nosso vídeo e texto, com suas aventuras, a superação das adversidades e os conselhos, que se aplicam tanto à nossa vida profissional quanto à nossa vida pessoal. A proteção das asas abertas de Falcão ainda paira sobre nós, e sua risada ecoa como o canto altivo da ave: e nós servidores também somos seu bando, parte de sua família.

E por falar em família, esse é um tema recorrente nas conversas com servidores do TRT-2: a frase “o Tribunal era uma família” é uma constante em nossas entrevistas. Existe, claro, o sentido figurado dessa expressão, uma vez que a proximidade entre os servidores, os vínculos afetivos e as amizades, nos faz sentir uma grande família. Mas também tem um sentido literal… Isso porque não é difícil encontrar sobrenomes iguais em nossos quadro de servidores. É natural que quem almeja um cargo no serviço público também incentive outros familiares a fazê-lo, afinal de contas, consideramos essa uma grande conquista.

De qualquer forma, o assunto família também esteve presente no Memórias Narradas. Seja pelo sentido figurado, seja pelo sentido literal. No caso literal, temos como exemplo os irmãos Toledo Leite, filhos de Décio de Toledo Leite, magistrado do TRT-2 que chegou, inclusive, a ser presidente do Regional entre 1959 e 1963.

O primeiro dos irmãos a ingressar no Regional foi Décio Luiz, ainda em 1948, bem nos primórdios da Justiça do Trabalho. Em seu vídeo ele relembra esses primeiros passos, os primeiros servidores e magistrados, e do trabalho na secretaria das juntas de conciliação e julgamento, com poucos recursos e ainda com muitas rotinas a serem definidas.

Assista ao episódio do projeto com Décio Luiz de Toledo Leite.

Eram outros tempos, quando a Justiça do Trabalho ainda se consolidava no Judiciário, do qual passou a fazer parte em 1946. Décio Luiz se lembra dessa época, dos grandes nomes que passaram pelo TRT-2 e se projetaram no cenário jurídico brasileiro, passando também por temas como a Justiça Trabalhista no período da ditadura militar.

A segunda irmã a ingressar no TRT-2 foi Renée Alice Garcia Leite, em 1956, que lançou luz sobre a questão da inserção da mulher no mercado de trabalho na década de 1950, e que chefiou durante anos o serviço de acórdãos do TRT-2.

Assista ao episódio do projeto com Renée Alice Garcia Leite.

Renée nos contou sobre como era comum que os maridos interferissem na vida profissional de suas esposas, muitas vezes as impedindo de trabalhar, nos fazendo refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres da época para conseguir alguma independência financeira. Embora o cenário hoje seja outro, ainda há muito para ser superado nas limitações impostas às mulheres no mercado de trabalho. Mulheres como Renée ajudaram a questionar estruturas retrógradas de dominação de nossa sociedade.

Por fim, o último dos irmãos Toledo Leite a ingressar na Justiça do Trabalho, em 1957, foi o caçula Luiz Antônio de Toledo Leite, o Totó. Ele, com seu jeito divertido, contou vários “causos” que presenciou na sua trajetória na Justiça do Trabalho paulista, desde a sua atuação na capital, depois como diretor na junta de conciliação e julgamento de Campinas, em 1960, e por fim em Santos, onde se aposentou no cargo de diretor.

Assista ao episódio do projeto com Luiz Antônio de Toledo Leite.

Além dos eventos divertidos de sua trajetória, Totó em sua entrevista também nos traz assuntos como a criação da Associação de Servidores da Justiça do Trabalho, a expansão do TRT-2 com a criação de novas unidades e sua atuação na cidade de Santos, com seus trabalhadores reconhecidos por sua grande importância na luta por direitos.

E ainda falando sobre irmãos, pudemos conhecer as histórias das irmãs Savi: duas histórias de luta. Primeiro, a de Benedicta Savi, uma luta ruidosa. Militante de movimentos de esquerda durante a ditadura militar, foi perseguida e teve que se exilar ao lado de seu companheiro, o magistrado do TRT-2 (que foi aposentado pelo AI-5), Carlos de Figueiredo Sá. O casal em seu exílio passou por diversos países da América do Sul e da Europa, e retornou quase dez anos depois, ao Brasil, sob os auspícios da lei da anistia.

Assista ao episódio do projeto com Benedicta Savi.

Benedicta foi exonerada do TRT-2 por “abandono de cargo”, devido à impossibilidade de retorno ao Brasil e de reassumir seu posto de trabalho. Ela foi reintegrada ao quadro de servidores após processo que comprovou a perseguição política que a impediu de retornar ao país. Benedicta nos contou sobre a convivência com Carlos Sá e outros grandes nomes da educação, política e cultura do país, como Geraldo Vandré e Darcy Ribeiro, durante seu exílio. Também nos mostrou um retrato da perseguição política, que tentava alcançar seus desafetos mesmo no exterior.

Ao contarmos a história de Benedicta também conhecemos a de sua irmã, Maria Antônia Savi, que travou uma luta silenciosa aqui no Brasil, enquanto Benedicta esteve exilada. Maria Antônia infelizmente nos deixou em 2020. Uma mulher forte, de voz calma, que ajudou a cuidar dos pais, já idosos, e forneceu apoio a Oswaldo, irmão que também foi servidor do TRT-2. Oswaldo foi exonerado em 1970, em um processo questionável, inclusive pela participação do Serviço Nacional de Informações. Mais tarde, em 1979, foi reintegrado ao quadro de servidores ao provar que a documentação fornecida pelo SNI era baseada em informações falsas. As armas de Maria Antônia nessa fase difícil para a família foram o trabalho, a resiliência e o caminho do servidor exemplar, para que nada pudesse atingi-la e prejudicar sua posição fundamental de porto seguro para a família.

Assista ao episódio do projeto com Maria Antônia Savi.

A história de Maria Antônia, que poderia passar desapercebida, ganha voz e registro em nossos vídeos, demonstrando uma luta silenciosa que muitos de nós travamos diariamente, nos lembrando da força e resiliência que todos nós somos capazes de empunhar para proteger e prover segurança àqueles que nós amamos.

Ainda falando de família, mas agora no sentido figurado, conhecemos uma pessoa que construiu aqui uma: Dayse Conrado Bacchi, a baronesa do TRT-2. Vinda de uma proeminente família do estado de São Paulo, ou “quatrocentona”, como costumam dizer, passou a integrar o TRT-2 em 1959. Ganhou o apelido de “Baronesa” tanto pela sua ascendência familiar quanto pelo seu porte e elegância no ambiente de trabalho.

Assista ao episódio do projeto com Dayse Conrado Bacchi.

Discreta e muito dedicada ao trabalho, construiu sua carreira no Regional e fez aqui uma outra família, formada pelas meninas de sua seção, com quem compartilhou muito de sua vida. Dayse nos mostra um pouco das relações de trabalho da década de 1960, e, assim como Renée, nos faz pensar na inserção feminina nele. Tudo isso em um vídeo com boas histórias e cheio de humor no melhor estilo “inglês”.

E por falar em humor, o último episódio da temporada trouxe Edison Vieira Pinto, o Dedé. Grande ilustrador e aspirante a quadrinista profissional, Dedé integrou os quadros de nosso Regional de 1964 a 1986, atuando mormente na área de orçamento e finanças, onde escreveu sua história com muita simpatia e bom humor. Dedé chegou a ser diretor-geral de nosso Regional e do recém-criado TRT-15, órgão que ele mesmo participou da instalação.

Assista ao episódio do projeto com Edison Vieira Pinto.

Edison conseguiu em sua trajetória no TRT-2 incluir suas paixões, o desenho, o futebol e as crônicas, de um jeito bem divertido e criativo. Participou de muitos eventos de nosso Regional, como a separação de jurisdições, mudanças de endereços e compras de prédios. Ele nos contou essas aventuras e desventuras em sua entrevista, regada a muitas risadas e fantásticas histórias.

São oito histórias de pessoas que deixaram um legado a nossa instituição, assim como nós, hoje, estamos deixando para aqueles que assumirão nossos cargos no futuro. São trajetórias que nos trazem superação, protagonismo, resistência, devoção, amizade e amor, e que certamente nos fazem refletir sobre as nossas trajetórias. As memórias que nesse projeto foram narradas, por aqueles que a viveram, merecem ser celebradas e lembradas.

Memórias Trabalhistas é uma página criada pelo Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, setor responsável pela pesquisa e divulgação da história do TRT-2. Neste espaço, é possível encontrar artigos, histórias e curiosidades sobre o TRT-2, maior tribunal trabalhista do país.

Acesse também o Centro de Memória Virtual e conheça nosso acervo histórico, disponível para consulta e pesquisa.


Leia também


Publicidade

Publicado por Belmiro Fleming

Cientista social, faz parte do TRT-2 desde 2016, tendo integrado anteriormente o TRT-15 por quase três anos. De ascendência nipo-irlandesa, sempre se interessou por história, seja de seus antepassados, seja dos lugares em que viveu. Acredita que a modernidade de São Paulo traz uma carga histórica, algumas vezes esquecida.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: